CASA TRISTE
Naquela rua existe uma casa de aspecto muito triste. Está sempre fechada com cortinas baixadas, onde a trepadeira agarra-se angustiada, subindo pelas paredes descoradas pelo tempo.
No jardim baldio estagnado no tempo, a ilusão senta-se no banco solitário corroído pela ferrugem.
Na grama mal cuidada, folhas secas formam tapetes desbotados.
No pé de camélias ainda cantam sabiás e na roseira, beija flores consolam com seus beijos as rosas que ainda restam.
Num calmo entardecer de outono, daqueles que o sol se pondo deixa um rastro dourado no horizonte, eu passava pela rua, quando vislumbrei um vulto por trás da vidraça a contemplar um mundo que não existe.
Um ser humano de olhar perdido, que deve ter esquecido todas as preces.
Um ser humano solitário, refém das lembranças de um passado distante.
Um ser humano encarcerado pela dor escondida que ninguém pode ver.
Um ser humano fazendo companhia à saudade e a solidão da casa triste.