"Vivo, morto, vivo, morto", e isso não é brincadeira de criança
Todos os dias morro de hipotermia na sala do setor de Logística da empresa onde trabalho. Frio predador, tragando a presa e a presa sou eu. Sinto-me como em uma grande geladeira com cadeiras, computadores, armários, impressora, papéis (muitos papéis), etc. Quando saio da sala, é como se eu ressuscitasse. Quando entro, morro, quando saio, ressuscito. Costumam dizer que os gatos têm sete vidas. Se assim for, superei os bichanos.
Hoje já morri e ressuscitei várias vezes. Dei conta de uns relatórios de notas fiscais, tentei rabiscar, fazer um desenho (sem sucesso), ouvi e olhei a chuva, me debrucei sobre a janela umas trezentas vezes, li a coluna do Hagamenon Brito (escreve muito bem) no Correio, e agora estou pensando no almoço de meio-dia. Espero que tenha steaks de frango.
Voltando a "morrer e ressuscitar" em minhas manhãs de trabalho... é uma batalha constante/frequente entre eu e o ar condicionado, que fica dali de cima, sobre a janela, me destruindo aos poucos. Por vezes, tomo coragem e aumento a temperatura, mando lá pros vinte e tantos graus e consigo sobreviver, mas na maioria das vezes, meus dedos atrofiam e eu não consigo mexê-los. Há dezenas de pessoas por aqui e ninguém chora minha morte. Muito menos notam. Desse jeito até fico me sentindo um tanto sozinho. Os ambientes de trabalho, por vezes, são muito cruéis. O único tipo de relação é a profissional, nada de sentimental. Humanidade zero (até mesmo no RH).
Da vida à morte e novamente à vida (pra morrer de novo). Do frio ao ar quente pra novamente voltar ao frio. Ciclo que dura das oito da manhã ao meio dia. Depois disso vivo sem mais problemas, sem mais interrupções, no calor monstro da cidade. Nessas horas eu penso na "morte", como seria bom "morrer" num engarrafamento quilométrico em pleno sol escaldante. A morte pode, muitas vezes, ser um grande aliada e te ajudar a viver.