Crônica de Madrugada

Ninguém está sóbrio esta noite. A música toca enquanto o sereno caí. O acaso é mera coincidência. Tem alguém cantando mais longe, e enquanto isso o relógio esconde o tempo que não quer ser encontrado. O tempo não quer saber de mais tarde. Ele me disse em segredo! O ritmo é desconhecido, parece que ninguém faz ideia do que seja. Mas, tão mexendo a boca. Parece que acompanham a letra enquanto ensaiam contorcionismo. Estranho alguns movimentos! Parece que mascam chiclete. Não dá pra distinguir muito bem uma coisa da outra. Tem um moço chamando o Raul. E ele está A léguas distante. Correu... Nossa! O povo gostou muito não! Tem alguém me abraçando por trás. Tentei sentir o volume dos seios, mas, putz... OLHA a viagem do cara?! Eu ia dizer viadagem, mas, podem acusar que é preconceito. Hoje em dia tudo é! Deixa queto! Eu reconheci o sujeito. É parente! Tá sóbrio não. Eu também tô não. Tô cumeno as sílabas e inventano linguísticas. Já criei até pleonasmo. Muitos pleonasmos! Vou relevar.O álcool me viu sorrir e fechou a cara. Ele queria que eu brigasse, desferisse socos e ponta pés. O álcool é um sujeito estranho, mais estranho que o parente que quase me derrubou. Vou evitá-lo. Não totalmente. Melhor que eu seja conveniente. Tô ligado em tudo. Ob-observando! A moça ao lado não tira os olhos de mim, quero dizer... Eu não tenho certeza sobre isso. Meus olhos têm me traído ultimamente. Vou ignorar a possibilidade contrária. Quero acreditar que os olhos dela estão sob mim. Eu me envaideço. Vou fazer uma pôse. Alguém passa correndo e não tenho tempo suficiente para me esquivar. Maldito tempo que se escondeu. Maldito Raul. Inconveniente Raul. Foi ele que me aprontou desta vez. A festa acabou pra mim. Vou pegar o caminho de casa. Pronto! Mas, vixe... Não acerto o passo na Estrada. Continuar andando tá cada vez mais pesado. Depois de alguma poeira nos olhos enfim avisto minha cama. Também não tenho certeza disso. Meus olhos! ah... meus olhos! A única certeza é que a noite terminou. Algum resquício de consciência se manifesta. Sei que a madrugada é uma detetive especialista em casos como estes. Pode encontrar qualquer coisa de sobrenatural. Pode querer me acusar. Pode querer muitas coisas. Me consolo. Não estou só. Capaz de escrever uma crônica. A madrugada. Tomara que escreva umas crônica. Deve haver outros casos. Mas tô preparado caso ela me escolha como protagonista. Mas, deve haver outros casos sim. Ninguém está sóbrio esta noite. Mas... bem, vou entender o acaso como mera coincidência enquanto durmo nesta cama de capim! Será que é capim mesmo?!

Héryton Machado Barbosa
Enviado por Héryton Machado Barbosa em 07/05/2015
Código do texto: T5233366
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