A Leitura do Semblante
É comum às crianças negarem aos seus pais a autoria de suas estripulias. Tinha eu pouco mais de quatro anos, quando provoquei um incêndio ao mexer numa caixa de fósforos. Interrogado pelo olhar firme de minha mãe, apontei o irmão mais novo como sendo o autor. Fui levado apenas pelo extinto de defesa. De imediato, ela viu que eu estava mentido e foi logo dizendo: “a sua carinha não nega”. Assumindo a culpa, a ela me agarrei, na esperança de que ela me protegesse da uma possível surra do pai, coisa comum na época. O pai era sempre o mais rigoroso. Escapei da surra, graças ao zelo da mãe. Mas não me saiu da memória a sua lição de que “a carinha não nega”.
Agora, bem corrido e bem vivido, acredito perfeitamente na leitura do semblante. Aquele depoimento de um ex-diretor da Petrobras me parece verdadeiro, quando afirma que o rombo partiu dos “maus políticos”. Tem o cuidado de não generalizar, frisando bem esse termo, ao tempo em que “dá nome aos bois”. Como são citados alguns figurões, certamente que há uma pressão para que isso não seja visto como verdade. E eu, na minha modéstia percepção, acho que prevalece ainda a lição de minha mãe. Enquanto a carinha daquela criança não negava que estava mentindo, o semblante daquele homem me perece que está falando a verdade. Que me desculpem os que não acreditam na minha percepção. É apenas a visão de um leigo, num caso em que só a Justiça pode julgar.