Entre fortes e fracos
Os fortes sempre fizeram sentir-me fraco. Há quem diga que sua força é aquela advinda de muitas lutas e derrotas. De dores que se acumularam e petrificaram seus corações, tornando-os sólidos e impenetráveis. Outros, por sua vez, dizem que os fortes são os verdadeiros fracos, que se vestiram com uma armadura de firmeza para não cederem mais, ante de tudo o que lhes tenha feito desmoronar anteriormente. Não sei muito sobre os fortes. Sei mais sobre os fracos, pois, entre eles, eu me encontro.
Os fracos são os espectadores. Aqueles que sempre estiveram à deriva. Os fracos nunca explodem, mas, constantemente, implodem. Calados na maior parte das vezes. Exceto quando não somos capazes de reter tudo aquilo que nos tornam fracos. Os fracos não sabem aonde ir, nem como voltar atrás, e, quando sabem, não vão. Alguns dizem que os fracos são os verdadeiros fortes. Mas nisto não creio. Pois estes se permitem sentir o desprazer de todos os sentimentos ruins que os fazem fracos. Eu, ao contrário daqueles, creio que os fracos são apenas pessoas perdidas. Sem orientação.
Entre fracos e fortes não existe quem esteja imune de severas decepções. É capricho fantasioso desejar se anestesiar dos infortúnios da vida. Como se fossem capazes de passar despercebidos, sem ser molestados pelas adversidades. É possível que a maior diferença entre os fortes e os fracos seja a forma como aqueles se posicionam diferentes destes. Como encaram as irregulares curvas das estradas da vida. Aonde estará a fronteira entre a força e a fraqueza? A força denota movimento, enquanto a fraqueza se traduz pela inércia. Os fortes estão sempre em movimento. Mesmo quando são impelidos a se sobrestarem. Os fracos estão sempre hirtos. Como estatuas a admirar sua vagarosa ruína.
Os fortes, quando caem, se erguem sozinhos, limpam a poeira, engolem o choro e continuam a caminhada, cientes do que lhes aconteceu. Os fracos, quando caem, ficam acuados, aguardando o socorro divino, choram, mas percebem que não haverá clemência e, somente nesse momento, erguem-se para recomeçar a caminhada, mancando muito e amiúde. Penso que o limite entre ser forte ou fraco esteja exatamente no cansaço de sê-los. Os fracos, por muito serem, tornam se fortes para removerem-se de seu estado de inércia. Os fortes também se tornam fracos, quando cansados estão de sua pesada armadura, reduzem-se a fraqueza parar.
Que confusos, senhores, são os fortes e os fracos. Que se confundem em sua habitual força e comum fraqueza. Talvez eu tenha me enganado sobre estes. É possível que os fortes e os fracos sejam iguais, na medida em que sua força ou sua fraqueza oscile de acordo com o desgaste de estar há muito tempo caminhando ou há muito tempo parado. Portanto, concluo que: somos todos fortes e fracos.