Deusa do amor
Ela andava na rua. Seu andar lembrava uma Deusa de ébano, que se mostrava mais do que devia, pois acreditava ser uma bênção para os olhares de seus súditos. Andava e se mostrava como se fosse um brinde especial, um presente para súditos bem comportados.
Eles a olhavam espantados. Suas imaginações flutuavam. Ela andando assim, seminua, em plena rua. Com uma mini blusa de jersey transparente preta,que mostrava um delicado soutien de rendinhas, um shortinho minúsculo, pés descalços, emanando um perfume delicioso. Quem era ela? Mas que pisava leve e macio,... isso sim. Tinha nos olhos um brilho especial!
Elas a olhavam de cima para baixo. Seus olhares deveriam colocá-la em seu lugar. Mas ela nem ligava pra elas e muito menos pra eles.
Chegaria ao cais do porto onde estava seu marido. Ele jogava todas as noites seu carteado com os amigos e nunca se lembrava de voltar pra casa. Quando ela chegava lá porém, as coisas mudavam. Seus amigos não queriam mais jogar e quase sempre uma confusão se estabelecia. Uns achavam que tinham direito de apalpar as coxas dela; Outros por sua vez diziam umas cantadas baratas. A mulata era bonita. Ninguém queria negar. Aparentava ser gostosa. E deveria ser mesmo, pois seu marido, assim que ela chegava, se insinuando, parecia hipnotizado. Largava seu carteado e segurando seu braço, rumava pra casa vigiando os transeuntes que ousassem olhar para ela. Entravam em casa e o barulho começava. Discutiam por um minuto no máximo e em seguida só se ouvia gemidos. As pessoas se acumulavam na calçada para ouvir os murmúrios de amor que os dois emitiam. Barulho de cama rangendo... e silêncio enfim, lembrando que era finita a guerra dos amantes que sempre resulta em êxtase e paz para ambos os lados. Os transeuntes voltavam a circular e as candinhas voltavam para suas casas.
No dia seguinte, bem cedo, lá estava ela à janela. Com seu vestido de senhora recatada e olhar de menina para o povo que passa, sem sequer parar para imaginar o que eles estariam pensando. O dia passaria entre uma tarefa e outra; Entre uma olhada e outra. E quando a noite chegasse...