CONVERSA COLOQUIAL.
CONVERSA COLOQUIAL.
Um advogado e um lavrador.
Crônica
Por Honorato Ribeiro.
Bom dia.
-Dia.
-O senhor sabe me dizer se por aqui há alguém que tenha terra para vender?
-Sei sim sioro.
-É aqui mesmo ou em outro lugar?
-É bem pirtim da gente mermo.
-Quantos quilômetros daqui?
-É uma leguia curtia. É cum pulim de nada nois chega lá atê de apé.
-O senhor sabe o preço dela?
-Ior não, siô.
-O dono dessa terra o senhor sabe quem é?
-Sei sim siô.
-Como é o nome dele?
-Nois cunhece por seo Pericle.
-Péricles, não é mesmo?
É qui mia lígua num dá pra falar essa coisa difice. Nois chama ele de seu Pericle.
-Sei. Entendi. Sabe me dizer se ele está lá na sua fazendo ou viajou?
-Tá lá, nois vimo ele hoje. Não viajou, ior não. Ele ta lá.
-Você poderá ir comigo? Pois eu não sei a estrada.
-Eu pode. Qui hora é qui o siô qué ir?
-Agora. Vamos de carro. Você poderá entrar e iremos juntos.
-Tá bom. Nois vai lá e eu falo quele qui o siô qué comprá a terra quele ta vendeno.
-Bem, pode entrar e chegaremos dentro de poucos minutos.
-Mais o siô não vai vuano nesse carro, vai?
-Não tenha medo. Iremos devagar.
-Eu nunca andei num carro, moço, purisso qui eu teio medo.
-Fique tranqüilo que o carro é seguro.
-Eu cunfio no siô. Vou até me benzê pro meu santo e rezá pra ele nus ajudá.
-Você é católico?
-Sim siô. Sou devoto de San José.
-Eu também sou católico.
-Colé o santo qui o siô se apega?
-Jesus e sua mãe.
-Mia mãe, seu dotô?
-Não. A mãe de Jesus.
-Adiscupa pois intidi errado.
-Não. É que eu falei como sempre uso e não aprendi falar bem como você.
-Mais eu num sei falá cuma o doutor, pois sou anafabeto de pai e mãe.
-Mesmo você sendo analfabeto, mas eu entendo o que você está falando comigo. Não há nada de errado na sua fala. Vamos lá à fazendo do senhor Péricles.
-Tá bom, nois vai.
FIM.
hagaribeiro.