Um Rico Varal

A pouco mais de um quilômetro da nossa casa, na época da nossa infância, morava um cidadão que tinha fama de rico, apenas pelo que mostrava o seu varal. Não era aquele varal comum onde se põe roupa lavada para secar. Ali eram colocadas carnes de bode, expostas ao sol, uma vez que não havia geladeira. E o dono se gabava que era o maior criador de bodes da região. E nós, as crianças, sempre achando que o pai é herói, então fazíamos a comparação. Ora, se ele tem maior quantidade de bodes é porque é sua única criação. Nosso pai cria boi, bode, carneiro e porco, além de algumas galinhas, o que era comum a quem morava na roça. Queríamos insinuar que o nosso pai era mais rico, porque no nosso varal tinha além da carne de bode, também a carne de boi ou porco, a conhecida carne do sol. E ainda, em tom de pirraça, dizíamos que morávamos numa casa caiada, toda branca, enquanto outro, com fama de rico, morava numa casa de taipa. Eis aí os ricos do nosso tempo, lá no meu sertão, às margens do São Francisco.

Riqueza é algo muito relativo. Basta uma simples comparação. Hoje, morando na capital, sou rico em relação aos que moram na periferia. Pobre em relação aos quem moram na bela orla de Maceió. Mas, rico outra vez, ao poder nela caminhar logo ao amanhecer. Rico, ainda, mais outra vez, ao comparar com aqueles que moram na orla, mas dela não podem usufruir, por questão de saúde. Meu varal de hoje só estende roupas porque, além da geladeira, estamos bem próximos de supermercados. Assim, mesmo pobres, ainda somos mais ricos do que os ricos do antigo varal.

Irineu Gomes
Enviado por Irineu Gomes em 06/05/2015
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