Relato de um náufrago
Nasci com asas, mas os meus pés logo foram acorrentados, por isso caminho sem quase me mover. Sou mais um número para a estatística, provavelmente perdido pela margem de erro. Marcaram meu braço com uma eterna e misteriosa cicatriz, como o gado, pré-estabelecido e conduzido à servidão.
Fui sendo conduzida, muito inutilmente, pela escola, fosse pela escolha teria aproveitado meu aprendizado observando a natureza. Agora, o sistema me obriga a trabalhar 8 horas diariamente, e sinceramente é um roubo de vida! Tempo demasiado (suficiente para não sentir a magia que aflora nos dias), praticamente escravo, e muito desumano!
Vou ao supermercado e absolutamente nada está isento de veneno. Sabotaram nossa essência, modificaram nossas necessidades, aprisionaram nossa psique. Quem são eles? Em função de manter a hegemonia da indústria, nos obrigam a consumir veneno, seja na pasta de dente, desodorante, enlatado e, até mesmo frutas e legumes possuem ingredientes programados para causar câncer, depressão e outras mazelas.
Instauram-nos a doença para nos oferecer a “solução”: vendem-nos mais drogas “remediando” com paliativos que nada mais são que outra forma de nos manter escravos e ignorantes. Porque não nos conduzem ao auto conhecimento? A escola nunca me disse que a alimentação saudável e natural é base para a felicidade, saúde e vida plena! Não soube, durante a infância inteira, que o inofensivo suquinho da mamãe continha real veneno, açúcar refinado!
Fui instruída a arrancar os pelos que protegem meu corpo. Fui instruída a seguir desprotegida de informação. Fui instruída a não pensar nem questionar, apenas obedecer. Rotularam-me rebelde, porque vi a fresta de luz escondida na caverna. Fui taxada de louca porque converso com meu eu interior. Fui marginalizada por ser quem realmente sou.
Os aparelhos tecnológicos (obsolescência programada!) inovam, cada vez melhor, na hipnose das pessoas. O jorro de propagandas e notícias vinda dos infernos propiciam um número alarmante de pessoas com síndrome do pânico, e/ou insatisfeitas consigo mesmas, em busca de “perfeição”. Onde? No procedimento cirúrgico, no consumismo exacerbado (e produção de lixo!), na ingestão de mais venenos, consequente ignorância, e a sequência de caminhar oposto ao entendimento divino e a gratidão de se saber perfeito.
Não há privacidade, nem liberdade. Não há contemplação, quanto menos silêncio, menos respeito e harmonia. A cidade me sufoca. A sociedade me suicida. O sistema me naufraga; não sinto saudade do passado, não acumulo o futuro, nem pretendo mais fugir do presente, apenas caminho acorrentada, embora tenha asas em meu pensamento.