O GRANDE HOMEM

O Grande Homem encontrou um ex-colega de estudos que não via há vários anos. Foi aquela festa. Foram às pressas atualizar as suas conversas, trocar confidências, bater aquele papo. As lembranças foram jorrando, auxiliadas por generosas doses de uísque. Ficaram ali rememorando a vida de fulano que hoje é isso; de beltrano que agora é aquilo; e de sicrano que continua marcando passo, isto ´´e, com as mesmas idéias e por isso mesmo pobre. A esssa lembrança do antigo companheiro que permanecia lutando contra o sistema, o Grande Homem disse ao seu interlocutor que aquele sim, era um homem de verdade, um cara de respeito. E quanto mais elogiava o sicrano mais fazia uma autocrítica: "Sou conivente com o sistema, enriquei roubando, vivo paparicando os poderosos. Sou um verme, meu amigo, um puxa-saco, um explorador dos humildes".

O amigo ficou srpreso com o surto de confidências do Grande Homem. Ja tinham bebido em demasia e, sem dúvida, o Grande Homem estava com uma crise de consciência. Dizem que o cara só se revela quando bebe, pensou. E como era o sujeito que estava pagando a conta, o correto wera concordar com ele. Quanto mais falava no antigo colega, mais o Grande Homem bebia e falava mal dele próprio. De repente, num rompante hilário, afirmou que iria mudar de vida, deixar de ser um explorador: "Amanhã começarei uma vida nova, sem vícios", assegurava, apontando para a bebida. "Vou defender o proletariado", enfatizava de olho rútilo e babando, e cerrando os punos. Chegou mesmo a confidenciar que ia entrar num partido de oposição, a dúvida era se o PSOL ou PSTU. "Vou botar pra quebrar!", exclamou exaltado. arrancando a gravata e jogando-a no chão. O amigo do Grande Homem teve vontade de rir, mas se controlou, enfim, estava filando boa bebida e trira-gosto de primeira. O que fez foi dar corda ao sujeito, frisando que ele iria ser um grande líder, um condutor de massas, que sabe um deputado de esquerda. O Grande Homem estufou o peito e já "chumbado", convidou um cara que estava com um violão numa mesa vizinha e começaram a cantar o "Caminhando" de Vandré. Cantaram pulando versos, mas bastante empolgados e desafinados que só vendo. No final tomado de fervor revolucionário, o Grande Homem subiu numa cadeira e berrou a plenos pulmões:"Quem sabe faz a hora, não espera acontecer". Depois foi para casa, totalmente embriagado, cuspindo imprópérios contra o capitalismo.

No dia seguinte acordou de ressaca. Tmou um banho e devorou um caf´´e porreta acompanhado de suco de frutas, tapioca, bolo, cuscuz com leite, pão fresquinho, macaxeira e carne de sol. Depois fumou um cigarro - a essa alturaa ressaca já não perturbava mais. Vestiu um terno novo e saiu no carrão último modelo. Segurando firme a direção do carro,ele sentia a sensação de segurança e de poder que o dinheiro dá. Pensou na boa vida que levava, no dinheiro que tinha aplicado, nos seus bens, nos trambiques que aplicava e, sobretudo, nas mulheres bonitas que o dinheiro tornava acessíveis. Foi então que recordou a conversa com o amigo, aliás, ex-colega de estudos. Riu o riso dos canalhas e pensou com os seus botões: "Mas era só o que faltava, eu deixar uma vida dessas para ir defender o povo! Bêbado diz cada besteira!". O Grande Homem botou ligou o som e ficou ouvindo uma balada da moda, o porre era coisa do passado. Deletou da memória. E priu.

Dartagnan Ferraz
Enviado por Dartagnan Ferraz em 06/05/2015
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