Cena da Velha Serrana

Situe-se no fim dos anos cinquenta e nos correr dos sessenta. E a cena que se descortina é a de uma cidade pacata, com menos de 20 mil habitantes, umas poucas ruas calçadas de paralelepípedo, que pouco a pouco vai-se sobrepondo às pedras redondas que cobriam as ladeiras mais íngremes, uma igreja matriz em estilo gótico, imponente cercada

dum casario colonial, um chafariz para manter acesa as loas à constituição de 1835, um belo jardim na parte central da cidade e uma fábrica de tecidos que apita e dita o ritmo de vida de centenas de operários...

Há mais coisas, como o ginásio, os dois grupos escolares, velho e novo, e uns quintais onde reinam árvores frutíferas para o gáudio da garotada.

E há a meia dúzia de alfaiates, uns modistas de senhoras, outra meia dúzia de sapateiros, um tanto menos de padeiros e, na estação como na rodoviária, maleiros disputam com os poucos taxistas as preferências do eventual chegante.

E o comércio tem um par de casas de ferragem, os armazéns de secos e molhados, de vendas chamado, um outro atacadista, o SAPs, as lojas de tecidos, outras de bens mais sortidos, já nascente a de eletrodomésticos, as vendinhas espalhando-se pela periferia, bares que vão proliferando...

E a indústria, miúda, que vai dos estanhados à singular fábrica das afamadas vassouras de piaçava, é Pitangui laboriosa, toda prosa, fervorosa nas procissões e noutras mais profissões...

Paulo Miranda
Enviado por Paulo Miranda em 05/05/2015
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