PAIXÃO.

A paixão não deixa enxergar, a paixão castra o entender, a paixão expulsa a razão, a paixão não faz compreender. Paixão é dualidade, não sabe que caminho escolher.

Quem poderia acossado pela retirada de seus direitos enaltecer o usurpador? Só o apaixonado. Quem poderia elogiar seu algoz que lhe deu o muito menos quando teria direito de ter o muitíssimo mais? Só o obnubilado.

Ninguém encanecido, depois de escarnecido, e vivido, pode aplaudir aquele que lhe deu aparentemente algo que esperava, que era o nada do muito que lhe foi assegurado. Mas nunca lhe chegou.

Não me gera surpresa a festa da pobreza interior, que tanto se vê, que chora, mas reverencia a nulidade, que coloca no altar o ícone da podridão que varre a esperança e descolore a saciedade pelo futuro prometida, porém sempre espera sem descerrar outros horizontes. Continua a comer no seu prato,onde a fome permanece mais contida, não tem forças para romper.

Da ignorância inocente tudo se espera, pois ela é inerte e inerme, paralisada para arguir e sem armas para lutar, é rasa por insciência absoluta e fraca de discernimento. Da mesma forma que a fome comanda a vontade, a ignorância põe a mesa. E por vezes faz festa.

A paixão cega todos os olhos, os que sofridos não podem ver, e confundem, e os menos sofridos, que enxergam sustentados nas mágoas e interesses, estes sempre presentes.

O sofrimento traz o ressentimento de quem range os dentes e blasfema a vida em que vive, mas aplaude também quem faz sofrer, não pela ação que traz danos, mas pela espera da mentira sempre apregoada de uma felicidade prometida que nunca chega. A esperança remota nunca é sepultada, por isso sofre-se sem buscar outros caminhos. Morre-se chorando pensando estar vivo. E morre-se a cada instante, a cada choro, a cada lágrima. É o cemitério dos vivos.

A paixão dos esclarecidos é mais danosa do que dos ignaros, pois vê e não compreende e recusa por não saber pensando que sabe. Vaga no mundo das vacâncias que nunca são preenchidas, por falta de luta. É o hiato da timidez que não alcança a força da vontade.

É preciso lutar ao invés de aplaudir pelo menos conquistado nas pelejas pequenas, no gládio do quase nada que de repente pareceu tudo quando nada era tudo.

Nada se sabe do que se pensa saber e talvez se queira até entender. Nada se sabe do simples, que rasteja ao nosso lado e nem assim vemos, imagina do complexo no cenário traçado na arte de quem não é artista.

São assim os personagens de teatro "intra muros" acreditando estarem em palco global.

É preciso agradecer e saber um pouco do nada que somos em entender o mínimo. Um dia saberemos a razão do nada, e talvez o que realmente somos.

Celso Panza
Enviado por Celso Panza em 05/05/2015
Reeditado em 05/05/2015
Código do texto: T5231670
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