Pousada Doutor Dito

O habitante, ou o eventual visitante de Pitangui, interessado nas descobertas ou redescobertas dos tesouros dessa cidade tricentenária, na certa perde muito se não subir aquela escadaria suntuosa para chegar à Pousada Doutor Dito, onde o charme e a suave atenção vão acolhê-lo.

Foi essa a sensação que experimentei, ao retornar àquele sobradão amarelo gema-de-ovo, quase seis décadas após ter lá estado - e na ocasião só ao ser andar térreo, que era então o consultório do Doutor Romualdo Cançado, o dito Dr Dito, acompanhando mamãe e irmãos, para entrarmos na vacina, que nos previniria d´algum mal cuja expressão me foge completamente à memória. Crupe, coqueluche, varíola, sarampo, qual deles você, leitor, agora escolheria? O que sei é que nos salvamos todos, com alguma seqüela dos riscos dos caquinhos de ampolas nos braços. Ou bumbum?

A parte superior do prédio era então habitada pela família do médico, sem acesso, portanto, ao curiosos e a outros inditosos. E ficava no ar aquela renitente indagação de como seria o interior daquela sedutora mansão.

O café que, acompanhado dum brioche lá tomei numa tarde dominical, dessas que antecipam uma conquista do Galo, matou-me essa curiosidade. E foi mais além: fez-me sentir aquele quê de saudade de um tempo há tanto transcorrido e ali zelosamente retido, revivido - e compartido.

Tão admirável o piso de pinho de Riga, ao teto alto que mantém um frescor que intriga. Uma acolhida amiga e obsequiosa, que se prodigaliza

em cativante prosa, como el candor de una rosa...

Se duvidar, tenho testemunhas, no silêncio imperturbável de Zeca e nos ladridos ruidosos de Lia. Tenho Dito!

Paulo Miranda
Enviado por Paulo Miranda em 05/05/2015
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