AH, MAS QUE AMORZINHO!
“Os cães nos veem como deuses, os cavalos como iguais, mas os gatos nos veem como seus súditos.”
(Winston Churchill)
Os filhos deixaram o ninho e foram construir os seus.
Ficam vocês dois, da mesma forma como começaram. É como um recomeço, só que com o agravante da idade e da transformação do fogo do início para o atual banho tépido de imersão.
Mas a mulher, mãe por natureza, cujos braços foram moldados com a forma de um berço, não tem mais a quem acalentar, porém o desejo persiste e a ânsia não tem tempo nem fim.
Um belo dia ela adentra a sala e lhe diz – “Amor, sabe o que eu vi hoje?”.
Você, sentado na cadeira do papai, pernas cruzadas, chinelo nos pés, lendo seu jornal, olha por cima dos óculos e exclama “Pelo rubor das suas faces e todo esse rebolado só pode ter sido o Reynaldo Gianecchini!”.
- Puxa, mô, parece até que eu sou uma sirigaita dessas aí! Eu que nem dou bola pra essa gente, que pecado!
- Tá, Cremilda, o que é que foi?
- Um gatinho lindo! Branco, com umas pinceladas caramelo nas orelhas, no nariz, nas patas traseiras e na cauda e um olho azul e outro verde, coisa de endoidar...
- Minha filha, isso não é um gato; é um quadro do Salvador Dali!
- Muito engraçadinho, mas fora de hora, Aderbal.
- OK, pardon madame!
E ela, matreira, com os olhos voltados para o teto, torcendo a ponta do avental, solta a bomba.
- Você deixa eu pegar ele pra mim?
Você, com a campainha de alarme tocando em seus ouvidos, larga o jornal no chão, endireita os óculos, descruza as pernas e pensa; “Caramba, eu já disse não para cachorro, papagaio, macaco, galinha, pinto, hamster, canário, coelho e o escambau, se disser não outra vez isso aqui vai ficar pior do que Sarajevo e as lamentações vão acabar derrubando o muro lá em Jerusalém”. E aí você, suicidamente, balbucia um “sim”.
Acabou pra você, Aderbal! A sua poltrona favorita vai mudar de dono, o miserável do felino vai esnobar você, você vai odiá-lo, mas ele vai puxar o saco da Cremilda, segui-la como uma sombra branca, andar sobre o teclado do seu micro bagunçando tudo e induzirá sua querida esposa a determinar que o lugar dele na cama é, exatamente, entre vocês dois!
O astuto felino conseguirá fazer a coitada da Cremilda entrar em pânico toda vez que escalar o telhado e ficar andando sobre a beirada mais estreita e aí ela vai gritar, histérica, “Ele vai cair, meu Deus, ele vai cairrrrrr! E, embora você pense “tomara”, o bichano tem sete vidas e, pelo jeito, ainda não queimou nenhuma, de sorte (ou azar) que ele não cai...
Não sei se gato ri, mas se você olhar atentamente pra ele a cada manhã ao levantar da cama, estremunhado, vai jurar que é verdade.
Aderbal, meu amigo, você já era!
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(dedicado a esses satânicos felinos que têm o poder hipnótico de se fazerem amar)
Foto do autor – da sua gatinha Felícia.
“Os cães nos veem como deuses, os cavalos como iguais, mas os gatos nos veem como seus súditos.”
(Winston Churchill)
Os filhos deixaram o ninho e foram construir os seus.
Ficam vocês dois, da mesma forma como começaram. É como um recomeço, só que com o agravante da idade e da transformação do fogo do início para o atual banho tépido de imersão.
Mas a mulher, mãe por natureza, cujos braços foram moldados com a forma de um berço, não tem mais a quem acalentar, porém o desejo persiste e a ânsia não tem tempo nem fim.
Um belo dia ela adentra a sala e lhe diz – “Amor, sabe o que eu vi hoje?”.
Você, sentado na cadeira do papai, pernas cruzadas, chinelo nos pés, lendo seu jornal, olha por cima dos óculos e exclama “Pelo rubor das suas faces e todo esse rebolado só pode ter sido o Reynaldo Gianecchini!”.
- Puxa, mô, parece até que eu sou uma sirigaita dessas aí! Eu que nem dou bola pra essa gente, que pecado!
- Tá, Cremilda, o que é que foi?
- Um gatinho lindo! Branco, com umas pinceladas caramelo nas orelhas, no nariz, nas patas traseiras e na cauda e um olho azul e outro verde, coisa de endoidar...
- Minha filha, isso não é um gato; é um quadro do Salvador Dali!
- Muito engraçadinho, mas fora de hora, Aderbal.
- OK, pardon madame!
E ela, matreira, com os olhos voltados para o teto, torcendo a ponta do avental, solta a bomba.
- Você deixa eu pegar ele pra mim?
Você, com a campainha de alarme tocando em seus ouvidos, larga o jornal no chão, endireita os óculos, descruza as pernas e pensa; “Caramba, eu já disse não para cachorro, papagaio, macaco, galinha, pinto, hamster, canário, coelho e o escambau, se disser não outra vez isso aqui vai ficar pior do que Sarajevo e as lamentações vão acabar derrubando o muro lá em Jerusalém”. E aí você, suicidamente, balbucia um “sim”.
Acabou pra você, Aderbal! A sua poltrona favorita vai mudar de dono, o miserável do felino vai esnobar você, você vai odiá-lo, mas ele vai puxar o saco da Cremilda, segui-la como uma sombra branca, andar sobre o teclado do seu micro bagunçando tudo e induzirá sua querida esposa a determinar que o lugar dele na cama é, exatamente, entre vocês dois!
O astuto felino conseguirá fazer a coitada da Cremilda entrar em pânico toda vez que escalar o telhado e ficar andando sobre a beirada mais estreita e aí ela vai gritar, histérica, “Ele vai cair, meu Deus, ele vai cairrrrrr! E, embora você pense “tomara”, o bichano tem sete vidas e, pelo jeito, ainda não queimou nenhuma, de sorte (ou azar) que ele não cai...
Não sei se gato ri, mas se você olhar atentamente pra ele a cada manhã ao levantar da cama, estremunhado, vai jurar que é verdade.
Aderbal, meu amigo, você já era!
-0-0-0-0-0-0-0-0-0-0-0-0-0-0-0-0-
(dedicado a esses satânicos felinos que têm o poder hipnótico de se fazerem amar)
Foto do autor – da sua gatinha Felícia.