"CORRE, TEIMOSA!"

Ali deitado na rede branquinha, fazendo a sesta depois do almoço, ela recordava passagens de sua vida, principalmente o tempo, antes de se tornar coronel de baraço e cutelo da Região, o tempo que foramascate e fazia a feira em diversos povoados. Um deles era Calumbi, a feira ali acontecia nas quarta-feiras. Na terças já mandava seu ajudante com as mercadorias. No outro dia, de madrugada, partia para lá montado na sua famosa burra apelidada de "Teimosa". Na última dessas viagens, às seis e meia, já nas cercannias de Calumbi, resolveu dar uma passada na casa de um camponês que morava pertinho. Esse camponês tinha uma esposa muito bonita. Sem usar nenhum enfeite era belíssima. Um pitéu. Ele era vidrado nessa mulher. Há muito resolvera dar o bote em cima dela.. E seria nessa oportunidade. Chegou em frente da casa, sabia que o camponês já saíra para a roça, e aí gritou: Ô de casa!". A camponesa abriu a porta e cumprimentou educadamente e efusivamente o mascate. Disse que o marido já havia saído para a roça, mas que iria chamá-lo, que esperasse um instante, era s[ó uma meia légua ate a roça. Ele disse que ela não precisava incomodar o marido, que só desejava descansar um pouco porque se sentira mal no caminho com dores no estômago, um problema antigo. A camponesa, na sua santa ingenuidade, mandou que ele entrasse e se deitasse na rede da salinha. Deitou-se e disse que estava ansioso para chegar a Calumbi para tomar um copo de leite e descansar o dia todo, nem faria a feira. A camponesa, compadecida, disse que por isso não, que iria providenciar um copo de leite da vaca para ele. Agradeceu, disse que leite de vaca não servia, que nesses casos só tomava leite humano, por isso ´´e que estava ansioso ppara cegar a Calumbi porque na pensão que se hospedava havia uma filha da proprietária que amamentava um filhinho e sempre lhe arrumava um pouquinho do seu leite. A pobre camponesa não teve dúvida, desse que também amamentava um filinho e que daria ao mascate um pouco do seu leite, iria lá dentro e logo traria a canequinha com o leite. O mascate então sentou-se na rede e com os olhos brilhando de fascínio e desejo pela camponesa, ela não uusava stiã, só um vestidinho de chita sem nada por baixo, dava para vislumbrar seu corpo apetitoso, resolveu dar o bote. Disse de olho rútilo e quase babando de desejo: "Dona, desculpe o pedido, mas preciso mesmo é mamar na fonte porque o efeito é imediato. Foi o que me aconselhou um médico da capital".

A camponesa, de repente, virou uma cascavel. Desapareceu a candura, a educação, a timidez, a ingenuidade. Como uma fera encarou o mascate sem medo, ativa, decidida, indignada: "Cabra safado, vou chmar meu marido para lhe dar uns tapas, seu nojento!". E saiu correndo para a roça. O mascate frstrado e temeroso, pulou da rede e se jogou na sela da birra, esporeou-a e gritou aflito: "Corre, Teimosa!, que quando chegarmos a Calumbi eu te dou dois litos de milho". A burra chegou suada da cabeça às patas e o mascate todo doído, pensando no que teria acontecido se tivesse encontrado o camponês. Deixou de fazer a feira de Calumbi, e logo depois a profissão de mascate. Ali na rede lembrava e ria desse fato de sua vida, nunca encontrara uma mulher tão bonta e nem tão honesta.

Dartagnan Ferraz
Enviado por Dartagnan Ferraz em 04/05/2015
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