Moradores de Rua
Moradores de rua
Em "A importância de Viver", o autor, um confucionista chamado Lyn Yuntang, afirma que as únicas pessoas realmente livres são os vagabundos (no sentido de serem pessoas sem obrigações formais), que podem ir para onde quiserem sem dar satisfação a outros e necessitam de um mínimo para viver.
Agora há pouco levei minha cachorrinha para passear no jardim da praia (Santos possue o maior jardim contínuo do mundo e é maravilhoso) e ao passar ne frente de um banco onde se encontravam três cidadões livres, hoje chamados moradores de rua, escutei "-Viver sem coleira, isso que importa! Sem coleira! Você vai onde quer, não tem que pedir autorização pra ninguém e nem dar explicação!". Quem falava era um cara barbudo. Fiquei curioso e imaginei os altos papos que devem rolar nesses encontros, as "filosofadas" que aparecem. Minha cachorra parou para dar uma cheirada básica no cachorro do cidadão que estava falando, um vira-lata bem tratado e gentil, que logo veio abanando o rabo. "- Esse cachorro é minha vida. Nunca faltou ração para êle, ganhei quando era um filhotinho bem pequeno e o criei com muito carinho. Pode faltar qualquer coisa prá mim, mas prá êle nunca faltou nada. É um cachorro do bem, obediente e meu companheiro."
O barbudo articulava muito bem seus pensamentos e expremia-se com linguagem correta. Expliquei que a Mel não enxerga e que, quando puder, vou mandar operá-la da catarata. e fiz uma breve explicação do que era essa doença dos olhos, e fui ouvido por três pares de ouvidos atentos. Confesso que tive vontade de sentar no banco e continuar a conversa sobre essas coisas simples da vida, pois os caras sabiam quando falar e quando escutar, coisa difícil hoje. A arte de conversar quase não existe mais. Ou as pessoas se delongam em dissertações que só interessam a elas, ou interrompem a fala dos outros, ou ainda querem se mostrar melhores que todos.
Como não sou um cidadão livre, voltei ao meu mundo após esse parentesis, contente por saber que ainda existe simplicidade e amor aonde nem imaginamos. Meus grilhões do mundo dito moderno me chamavam.
Santos, 02 de maio de 2015.