TUDO QUE ESCREVI É PALHA.
No fim da vida, São Tomás de Aquino, conhecido como o maior teólogo da cristandade, responsável por cinco argumentos científico-filosóficos para provar a existência de Deus, princípios que até hoje desafiam estudantes de teologia católica, após visão transcendental que teve, se calou e nada mais escreveu. Perguntada a razão dessa atitude disse: “Tudo o que escrevi é palha”.
Teria a genialidade tomista estado "face a face" com a revelação? Ninguém sabe. Sabe-se, contudo, que muitos se calaram depois de vida de total ascese na busca da paz interior e da existência do Ser Maior, Deus.
Como resolver problemas espirituais com argumentos intelectuais?
Os maiores ateístas, inadmitindo a existência de Deus, na verdade foram os maiores teístas, admitiam sua existência, pois passaram suas existências vivendo Deus, procurando-O para negá-lo sob intensa angústia. Ninguém nega o que não encontra. O que não existe desnecessita contradizer sua inexistência.
Assim foram Nietzsche, Voltaire e tantos outros. Kant afirmava não poder admitir a existência de Deus, mas nada ter para demonstrar sua inexistência, mas cedia haver uma Primeira-causa para tudo e grafava a Primeira-causa em maiúsculo.
O formidável Huberto Rodhen é irrespondível em sua lógica de pensamento: “Quem quer luz na sua sala, deve abrir uma janela rumo ao sol”.
Como harmonizar a maior das angústias do homem, seu surgimento e seu desaparecimento?
Como explicar a passagem breve na certeza de que tudo é pó e o algo mais um salto no escuro, o desconhecido? O que é isso, existir não existindo, sendo passagem frágil e volátil exposta a todos os riscos? O que é o não-ser que se eterniza quando o ser desaparece materialmente como creem muitos? E as voltas do ser ao existir novamente, reencarnar por vezes segundo crenças, para aperfeiçoar imperfeições passadas de outras vidas? Já fomos outros, vivemos antes? Que gigantesca questão com simples e pueris abordagens, submissas a explicações infantis acatadas sem maiores indagações por tantos.
Que passo infinito pode dar o cérebro, a razão, ao encontro dessa posição? Ou o faz o coração através do ato de fé tão somente?
É muito para o nada que somos chegarmos a estas culminâncias do entendimento que traz paz. Só para os Santos.Teria razão o teólogo dos teólogos, São Tomás, quando disse “tudo que escrevi é palha”. Imagine-se, o dono de uma das maiores obras da humanidade, a “Suma Teológica”, chegar ao termo da jornada achando que nada mais do que palha produziu, ou seja, somente sua fé ou a revelação não revelada selaram sua intelectualidade imensa com abissal silêncio.
Por vezes diante de tais cerebrações e atitudes nos reduzimos ao nosso nada e entendemos os monges e seus silêncios. O silêncio muitas vezes percorre a eloquência de um dizer muito quando pode parecer um dizer nada.
Quem somos nós para pretender chegar às transcendências do corpo, às luzes interiores que seriam imortais enquanto vivos?
Toda a conquista da ciência e da razão nos leva em certo momento a um caminho interrompido, a um ponto-morto. Nasce um grande silêncio às indagações do intelecto e é esse grande silêncio, se a ele se tem a ventura de chegar que deve possibilitar como dádiva uma pequena revelação, uma iluminação a demonstrar que toda nossa corrida “é palha”, que seria muito mais revelador pelo silêncio a voz da fé, muito mais que tudo escrito por gênios como São Tomás.
O encontro da calma pela calma do silêncio é explicativo das profundas interrogações, definindo nossa falta de recursos para continuar a busca que se plasma e se coloca submissa às nossas infindáveis limitações.
Como explicar a morte se nada sabemos da vida?