Aqueles tempos
Quando era pequena (ou melhor, "quando era mais jovem", pois pequena eu sempre fui), nunca entendia ao certo quando minha avó ou outras pessoas mais velhas diziam: "Ah, eu tenho tantas saudades daquele tempo!", "Tal tempo foi tão bom!", "Ah, como era bom aquele tempo!". Talvez, "não entender" não seja o termo certo para definir aquilo que me passava perante a essas exclamações. Mas sim, não conseguia sentir o que elas estavam tentando me transmitir. Hoje, eu sinto e entendo.
Nós percebemos que estamos ficando velhos quando começamos a sentir saudades. Bem, nem sou tão velha assim, eu acho. Tenho apenas duas décadas de vida, mas tenho aprendido o que é sentir saudades quando me deparo com os desafios de cada dia. Reconheço, hoje, que a vida era simples, boa e tranquila - uma vida que eu, injustiçadamente, reclamava por achá-la chata e difícil.
É engraçado como algumas coisas puxam as nossas memórias. Em um passeio de carro, comecei a lembrar dos tempos de Ensino Médio ao sentir o vento a soprar em meu rosto, enquanto olhava para a paisagem de fim de tarde. Naquela época, eu estudava em uma cidade vizinha, onde tinha aula integral em alguns dias da semana. Aliás, eu tinha que acordar muito cedo para pegar a condução, e voltava para casa com o dia já escurecendo. Minha única preocupação, meu único sofrimento era conseguir excelentes notas, a fim de ser aprovada a cada semestre para que, em seguida, fosse capaz de passar tranquilamente no vestibular. Mas o detalhe é que eu fazia uma tremenda tempestade no copo d'água para não tirar nenhuma nota abaixo da média, como se minha existência dependesse apenas disso.
Apesar das dificuldades, hoje reconheço que eu fui feliz. Sinto falta das aulas, dos professores, de meus colegas, e até mesmo das provas e da viagem cansativa que fazia todos os dias. Enfim, sinto saudades de qualquer coisa que se remeta àquela época. Inclusive, fiz grandes amizades, e algumas delas, felizmente, tenho até hoje. Era tão bom quando, por exemplo, em um dia frio, eu e minhas amigas nos sentávamos onde havia sol para nos aquecer, enquanto observávamos o movimento na escola e jogávamos conversa fora. Parece ser uma coisa boba, mas eu sinto muitas saudades disso. Era divertido.
Depois veio a faculdade. Saí da casa de meus pais, e fui morar em outra cidade. Lá, comecei a aprender o significado da palavra "saudade": em meu primeiro dia, chorei e já quis desistir do curso. Mas, lutei, tive apoio e segui em frente. E o engraçado é que por mais que eu dissesse que detestava minha cidade natal, eu contava os dias para chegar o fim de semana para que eu pudesse voltar até lá. E, assim como foi no Ensino Médio, conheci novas pessoas e fiz amizades. Gostei muito do curso, o qual sempre fora minha primeira opção. Mas, hoje, sinto que me arrependo de certas coisas.
Acredito que poderia ter aproveitado melhor minha vida na universidade. Eu poderia ter sido mais ousada, e valorizado melhor as oportunidades. Sei lá! Talvez eu poderia ter sido mais sociável nas festas e nos encontros de meus colegas. Mas agora não há mais tempo para arrependimentos! Sinto saudades da minha antiga casa, das noites de frio da cidade, de meus professores, de meus colegas e quando passávamos o tempo conversando na sala ou caminhando pelas calçadas. Conseguir boas notas ainda era uma preocupação. Mas nem tanto como era antes. E agora que eu me formei, além de sentir saudades do colegial, começo a sentir falta de meus tempos de faculdade. Pelo visto, minha nostalgia nunca terá um fim.
Em uma época de crises, e assim como uma boa parte dos recém-formados, estou desempregada. E, acredite, conseguir um bom emprego atualmente não está nada fácil! Eis um novo desafio. É nessas horas que começo a me lembrar de quando chegava em casa chorando por ter tirado nota vermelha em alguma prova por míseros décimos, e ainda queria morrer por causa disso. Ou então, quando achava que o mundo ia acabar porque a data da prova de matemática estava se aproximando (sim, sempre tive dificuldades nessa disciplina). Isso tudo, sim, era fácil. Muito mais fácil do que estou vivenciando hoje, admito. Confesso que eu daria ou faria qualquer coisa para que pudesse voltar e congelar naquele tempo.
"Eu era feliz e não sabia". Pois é. Já dizia essa antiga e sábia frase. Com o tempo, a gente não só cresce, como também amadurece. Chora, ri, desespera, comemora. E principalmente aprende a valorizar mais a vida. Com isso, sentir saudades nem sempre é ruim. Meu coração aperta e meus olhos se enchem de lágrimas. Choro, mas é bom. É bom lembrar que um dia eu fui capaz de ser feliz por ações tão simples. Desafios sempre farão parte da vida, e seu nível de dificuldade aumenta na medida em que envelhecemos. Porém, cabe a nós a enfrentá-los, e também nos auto desafiarmos. Daqui a uns anos, eu, certamente, irei sentir saudades do agora.