Gatunos sessentões

Acabo de fazer quarenta anos. Mais vinte, sessenta. Passa tão rápido... Lembro-me bem dos meus vinte: segundo ano do curso de História, início de namoro, perspectivas otimistas para um futuro que já é presente. Parece que foi ontem...

Se eu chegar aos sessenta, também me lembrarei dos meus quarenta como se fosse ontem, tenho quase certeza.

Ah o tempo...

“Os que vamos morrer iremos aos mercados”, escreveu Adélia num poema. Que coisa mais bonita. A morte tão nossa, tão natural. E logo ali, na esquina. É tudo muito rápido.

Isso me faz pensar numa determinada laia de corruptos deste país. Vejo-os às vezes na televisão, sorrindo, despreocupados, cercados por policiais; depois saindo da delegacia para ‘responder em liberdade’; outros nem passando perto da polícia, graças às imunidades que têm. Muitos deles grisalhos, barrigudos, castigados pelo tempo.

São os gatunos sessentões!

O que pensa uma pessoa dessas? O que faz um corrupto rico com mais de sessenta anos querer ter mais dinheiro do que já tem? Para nos próximos vinte ou trinta anos adquirir mais patrimônio? Para quê? Para deixar para a família? MAIS? Ela já não tem o suficiente para viver folgadamente até morrerem netos e bisnetos, sem ninguém precisar trabalhar? E o pior: dinheiro sujo, que para estar ali, financiando carros importados, apartamentos de luxo, lotes, festas e viagens, milhares de trabalhadores foram lesados em seu direito à saúde, educação e moradia dignas. Muitos até morreram, por falta de médicos, infraestrutura e segurança.

Dinheiro sujo, fedido. Pagos com ele, o carro mais luxuoso e a festa mais chique fedem. Motos, lotes, apartamentos, casas, prédios, empresas, se pagos com dinheiro sujo, fedem. O corrupto não sente. Sua família também não. Acham que é normal. Mas não é.

Dinheiro sujo fede. E pesa. Não faz bem. Não pode fazer bem. Eu acredito muito nisso.

Flávio Marcus da Silva
Enviado por Flávio Marcus da Silva em 01/05/2015
Reeditado em 02/05/2015
Código do texto: T5227271
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2015. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.