Nos Porões
– de Barbacena –
Nascer às margens dos caminhos que a História constrói é desenvolver a habilidade de percorrer expedições que exploram os fatos e o imaginário coletivo da sociedade que fez e que ouviu falar. Estes caminhos são povoados de oralidades que nutrem e mantém casos que ocorreram de “verdades” ou que o imaginário construiu perpetuando-se ou desfazendo-se conforme a memória. Desbravá-la é mister de bandeirante à procura de esmeraldas e ouro.
***
Quando começou frequentar a sala de visita daquela família os assuntos surgiram e relatos vieram à baila. Entre os diversos, eis aquele que expressa a oralidade que exemplifica o imaginário coletivo do Caminho do Ouro em Barbacena contada pela mãe daquela família:
“Nós vínhamos da fazenda e ficávamos na casa de D. Violeta. Era um casarão, um sobrado localizado na praça tal.
Uma vez D. Violeta e Sô José colocaram todo mundo, visitantes, filhas e empregados de sua loja, para escavar o porão que havia e se fazia de terra batida por debaixo do assoalho. Todos os dias nós escavávamos a procura de um tesouro que se sabia escondido ali desde a época da exploração do ouro.
A escavação foi profunda até que chegou um dia que Sô José mandou parar e disse que daquele ponto em diante somente a família escavaria. Fariam serões. Todos nós fomos retirados e foram fechadas as entradas que davam aceso àquela parte da residência.
...Sei que não demorou muito e toda a família se aprumou na vida. A verdade foi esta...”
Estas coisas ficam alimentando imaginação e memória de quem vivencia e se tornam temas de conversas posteriores quando a contação de casos é necessária “fazer sala” para visitas curiosas. Se a visita sente necessidade de ouvir mais do que falar isto de certo modo extrapola a memória como tesouro guardado em seus porões. Contar, ouvir e escrever é pérola no baú.
***
Vive-se uma vida e recortes surgem. Se junta um e outro e fabrica-se a colcha de retalho da História contada e documentada.
Alguém publicou nos grupos da rede social da virtualidade precioso recorte de jornal. Bastou costurar aquilo que se ouviu naquela sala de visita outrora com o que se leu no tal recorte. Tinha-se um pedaço do retalho para a colcha.
Uma vez contado o relato daquela oralidade que se ouviu transcreve-se aqui a letra do que se leu. Quem ler faça a sua costura para se ter a colcha da História. Estava escrito na manchete do jornal “A Noite” datada de 28/04/1939:
“Um tesouro fabuloso! Mais de 36 arroubas de ouro escondido desde 1787 – descoberto o roteiro e pedido o auxílio do chefe de governo – O que se anuncia de Barbacena.”
E assim seguia a notícia. Poupamos aqui nomes com o fito de instigar. Puxou-se a agulha com a linha e montou-se mais um quadro. Ponto e pesponto e o patchwork se viu acrescentado.
A memória suscita relatos que a ciência avaliza através da História escrita e reescrita e da reconstrução de constatações. A História é dinâmica uma vez que é contada segundo o prisma de quem pesquisa e de quem relata.
Nos porões da memória está o “porém” da História!
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Quando começou frequentar a sala de visita daquela família os assuntos surgiram e relatos vieram à baila. Entre os diversos, eis aquele que expressa a oralidade que exemplifica o imaginário coletivo do Caminho do Ouro em Barbacena contada pela mãe daquela família:
“Nós vínhamos da fazenda e ficávamos na casa de D. Violeta. Era um casarão, um sobrado localizado na praça tal.
Uma vez D. Violeta e Sô José colocaram todo mundo, visitantes, filhas e empregados de sua loja, para escavar o porão que havia e se fazia de terra batida por debaixo do assoalho. Todos os dias nós escavávamos a procura de um tesouro que se sabia escondido ali desde a época da exploração do ouro.
A escavação foi profunda até que chegou um dia que Sô José mandou parar e disse que daquele ponto em diante somente a família escavaria. Fariam serões. Todos nós fomos retirados e foram fechadas as entradas que davam aceso àquela parte da residência.
...Sei que não demorou muito e toda a família se aprumou na vida. A verdade foi esta...”
Estas coisas ficam alimentando imaginação e memória de quem vivencia e se tornam temas de conversas posteriores quando a contação de casos é necessária “fazer sala” para visitas curiosas. Se a visita sente necessidade de ouvir mais do que falar isto de certo modo extrapola a memória como tesouro guardado em seus porões. Contar, ouvir e escrever é pérola no baú.
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Vive-se uma vida e recortes surgem. Se junta um e outro e fabrica-se a colcha de retalho da História contada e documentada.
Alguém publicou nos grupos da rede social da virtualidade precioso recorte de jornal. Bastou costurar aquilo que se ouviu naquela sala de visita outrora com o que se leu no tal recorte. Tinha-se um pedaço do retalho para a colcha.
Uma vez contado o relato daquela oralidade que se ouviu transcreve-se aqui a letra do que se leu. Quem ler faça a sua costura para se ter a colcha da História. Estava escrito na manchete do jornal “A Noite” datada de 28/04/1939:
“Um tesouro fabuloso! Mais de 36 arroubas de ouro escondido desde 1787 – descoberto o roteiro e pedido o auxílio do chefe de governo – O que se anuncia de Barbacena.”
E assim seguia a notícia. Poupamos aqui nomes com o fito de instigar. Puxou-se a agulha com a linha e montou-se mais um quadro. Ponto e pesponto e o patchwork se viu acrescentado.
A memória suscita relatos que a ciência avaliza através da História escrita e reescrita e da reconstrução de constatações. A História é dinâmica uma vez que é contada segundo o prisma de quem pesquisa e de quem relata.
Nos porões da memória está o “porém” da História!
Leonardo Lisbôa
Barbacena, 22/04/2015.