A VENDA

David e Dora superaram muitas dificuldades para criar os filhos, agora estavam felizes porque finalmente chegara o grande momento da aposentaria. Decidiram voltar para o interior. Os filhos estavam encaminhados, era o momento do casal aproveitar o tempo restante de suas vidas. Decidiram vender a casa que residiam e comprar uma pequena chácara no interior. Teriam finalmente uma vida mais tranquila.

Um dos filhos sugeriu colocar o imóvel aos cuidados de um corretor amigo da família, profissional competente, experiente. Ele sabia perfeitamente que vender um imóvel é complexo, principalmente quando os proprietários ainda residem no local, mas não quis se opor à decisão do pai, o qual julgou ser desnecessário. O aposentado David manifestou o desejo de economizar nos honorários do corretor. Ele mesmo faria os anúncios no jornal, mostraria a casa para os pretendentes compradores, faria a negociação, tudo o mais. Acreditava que venderia o imóvel rápido e sem problemas. Além de tudo, atender os anúncios era uma forma de conhecer pessoas, coisa que ele gostava muito.

Aos poucos foi descobrindo que, a maioria dos telefonemas dos anúncios, era de curiosos. Trotes frequentes também aconteciam e aborreciam. Alguns telefonemas aconteciam justamente na hora das refeições, outros bem no momento em que descansava depois do almoço etc. Todas as visitas eram especulativas, nada mais. Na prática, David descobriu que trabalho de corretor não é fácil, não tem hora nem dia, não existe feriado nem final de semana. Depois de algumas semanas vivendo tal experiência, confessou a um genro que estava estressado com tantas ligações e visitas, ia reduzir o preço, queria decidir logo.

Na semana seguinte o aposentado recebeu uma ligação muito interessante, havia encontrado a pessoa certa, que sorte. O candidato a comprador foi transferido recentemente para uma empresa da região, demonstrou interesse concreto, nem questionou preço. Além disso, afirmou ter pressa de adquirir a casa para trazer a esposa e filhos e definir a escola das crianças. Provisoriamente se encontrava na casa de uma tia. David ficou empolgado, então foi combinado dia e horário para mostrar a casa. Que felicidade! O aposentado sentiu que finalmente estaria livre daqueles telefonemas chatos. Ele queria voltar a sua vida normal.

Os filhos do aposentado David foram alertados para não telefonar ou visitá-lo naquele horário, não queria interferência no momento da negociação. Foi uma providência necessária porque os netos, ao chegarem na casa dos avós, ficavam correndo pra cá e pra lá, faziam barulho e isto não podia acontecer.

Tudo estava em ordem. O pretendente foi pontual, telefonou do celular para confirmar a visita, em poucos minutos chegou no endereço, acompanhado de um primo. Tocou a campainha, blim-blom! O aposentado David abriu portão do quintal para o ilustre comprador estacionar o carro, em seguida o fechou e desligou o celular para ninguém incomodar. Os muros altos garantiam privacidade para conversarem à vontade. Em poucos instantes os visitantes mostraram o verdadeiro interesse, tratava-se de... ladrões. Subtraíram tudo que foi possível, inclusive as reservas que o casal possuía no cofre. Os ladrões partiram da mesma forma que chegaram, com naturalidade. Depois disso, o aposentado trocou a campainha, nunca mais quis escutar o som... blim-blom!

autora

MARINA

dagazema@gmail.com

Texto publicado em um livro da CBJE