782-...E O VENTO LEVOU - Comentários sobre o filme
Foi no tempo em que ir ao cinema era um programa social de qualidade na deliciosa cidade sulmineira de São Sebastião do Paraíso. Nas décadas de 1940 e 1950, no único cinema da cidade, as sessões das 17 e 20:30 aos domingos eram de gala. Por serem mais caras— CR$5,00 contra CR$3,00 nos demais dias e CR$2,00 nas matinés de domingo às 14 horas — o público era selecionado.
O Cine São Sebastião trazia os melhores filmes e reprisava os grandes filmes já exibidos. Quando (em meados de 1952) foi anunciado “... E o Vento Levou” filme de 1939, houve um rebu na cidade. Falou-se até em reserva de lugares. O filme era de longuíssima metragem, o mais longo até então produzido e a sessão de quatro horas era interrompida ao meio, para que os frequentadores pudessem sair até o saguão do cinema, a fim de esticaras pernas, descansando das cadeiras de assento e encosto de madeira, ou fumar. Pois na sala de exibição era proibido.
Eu tinha então 16 anos, já trabalhava e fui ver. Havia lido a história traduzida (um calhamaço de oitocentas páginas) e uma adaptação em quadrinhos e gabava-me de saber alguma coisa sobre o enredo, longo e épico.
Entrei e escolhi uma cadeira em boa situação. Já estava acomodado quando percebi que Enny e Edna estavam sentadas duas fileiras à frente, e ao lado de Enny havia uma cadeira vaga. Eu e Enny éramos apenas colegas do curso comercial e não namorávamos. Ela namorava um tal de Zuza, mas eu dava minhas investidas. Sem resultado. Mas quando vi a cadeira vazia ao lado dela, nem titubeei. Sem perguntar se estava ocupado, fui sentando e puxando conversa. Enny (penso) ficou acanhada em dizer que a cadeira estava reservada para o Zuza, e me deixou sentar. Em determinado momento, tentei passar o braço por sobre o encosto da cadeira, primeira tentativa para colocar a mão em seu ombro, mas ela, esquivando-se, desencostou o corpo, num aviso claro de que não “estava a fim”. Não insisti.
No intervalo, comprei balas na “bomboniére” instalada no saguão do cinema e ofereci-lhe e à Edna. Voltamos aos nossos lugares para ver a segunda pare do filme. À saída, convidei as duas para umas “voltas pelo jardim”, e elas recusaram, como também não quiseram minha companhia para chegar até sua casa.
O filme? Bem, o filme tornou-se importante para mim por ter sentado ao lado de Enny, por quem já nutria um amor... platônico.
O filme tinha quase 4 horas de duração (3 horas e 50 minutos, exatamente), na versão exibida naquela época. Um tecnicolor de espantar (foi um dos primeiros filmes em que esta tecnologia foi usada). Elenco principal: Vivian Leigh (Oscar de melhor atriz), Clark Gable, Olivia de Havilland, Leslie Howard. O filme teve 13 indicações para o Oscar, mas levou “só” 8 estatuetas.
O romance foi escrito por Margareth Mitchel, jornalista e escritora norte-americana, que ganhou os prêmios Pulitzer e National Book Award. Foi lançado nos Estados Unidos em 1936 e a tradução editada no Brasil tem 800 páginas. A adaptação para o cinema foi feita com a colaboração de F. Scott Fitzgerald e William Faulkner.
Quando assisti o filme já havia lido o romance em português, e uma versão em quadrinhos em revista da Coleção Edição Maravilhosa, da EBAL.
ANTONIO ROQUE GOBBO
Belo Horizonte, 8 de maio de 2013
Conto/crônica # 782, da Série 1.OOO HISTÓRIAS