Vaiar o Hino Nacional alheio devia violar a Convenção de Genebra
Vamos voltar no tempo e nos lembrar de nossas aulas de Geografia e História (Muita calma nessa Hora!). Para a Geografia, o que caracteriza um país é uma área delimitada, com uma população com o mesmo idioma, culturalmente assemelhada, que por razões históricas se aglutinam. Já da pra entender que é em História que bicho pega.
Nela aprendemos que uma Nação (um conceito mais amplo que país), nasce a partir do desenvolvimento de regiões, conquistadas, anexadas, negociadas, em uma simbiose de acomodamento de interesses amplos, para garantir o desenvolvimento e segurança de regiões. Essas regiões crescem e alcançam a maturidade através de heróis e símbolos, passados de geração em geração, onde suas histórias são moldadas para encaixar-se no conceito de Nação.
Heróis são lembrados, muitos mortos de formas violentas, onde se aprende a respeitar e cultivar seus ideais. São introduzidos símbolos nacionais, como uma Bandeira a identificar a Nação, e um Hino Nacional, criado para embalar a história e identificar com o que chamamos Patriotismo, que, de uma forma simplificada, seria o amor à terra onde nascemos, nossos costumes e valores.
Caro e único leitor, não se desespere, vou passar para um exemplo prático.
Imagine você, tranquilo, de férias, hexacampeão, passeando pela bela e ordeira Buenos Aires. Ao chegar a uma esquina arborizada, ao lado de uma ampla avenida observa, pasmo, três Hermanos cuspindo e chutando nosso Lábaro Estrelado (não é onde está pensando, trata-se de nossa Bandeira). Sou humano suficiente para admitir que, se fosse a minha humilde pessoa no lugar desse turista, não teria remorso de parar em uma delegacia Portenha após encher de sopapos a lá Capitão Nascimento esses indivíduos (quem não assistiu Tropa de Elite?), tendo como único arrependimento não ter fácil à mão um cabo de vassoura, para terminar o que não fizeram no filme. Antes que a patrulha do politicamente correto me espanque, não faço apologia à violência, apenas estou mostrando como temos apego emocional por nossos símbolos nacionais e por tudo que representam. Quero também deixar bem claro que tenho amigos argentinos.
Todos os povos são assim. Em maior ou menor escala, todas as nações tem essa identificação com seus símbolos nacionais.
Dito isto, é aí que a porca torce o rabo. Mesmo nas guerras mais sangrentas, certas regras sempre foram respeitadas. Tréguas para recolher os feridos, acordos para poupar áreas civis, tratar bem prisioneiros, e outras atitudes para preservação de uma selvageria indiscriminada (tenha sempre em mente que me refiro a confrontos entre nações). Claro que existem exceções, mas acompanhe meu raciocínio. Em 1864 (História de novo) foi assinada a primeira Convenção de Genebra, estabelecendo regras mínimas de civilidade para confrontos armados, como, por exemplo, a proteção de hospitais de campanha de ataques pelo inimigo.
O respeito aos costumes e religião do prisioneiro devem ser preservados. Ninguém vai queimar ou cuspir na bandeira do pais do prisioneiro, nem vaiar seu Hino Nacional. São regras em tempo de guerra.
Muitos hinos surgiram em meio a batalhas sangrentas, como o Hino Nacional francês, originário na Revolução Francesa (La Marseillaise) ou o Russo (Canção Patriótica – Não tenho caracteres em Russo para ficar mais dramático), oriundo da Segunda Guerra Mundial. Enquanto isso nosso amado Hino Nacional ganhou sua letra em um concurso de 1906 (a melodia é da época da independência em 1822). O governo pagou cinco Contos de Réis como premio pela letra à Joaquim Osório Duque Estrada. Isso quer dizer o quê? Absolutamente nada! Nosso Hino é fantástico e com uma composição linda. É só para entendermos como cada Nação tem sua própria história e cultura, e seu Hino Nacional é parte importante dela.
Então, peço encarecidamente a todos os agraciados com ingressos nessa copa do mundo, que, no inicio da cerimônia de entrada dos times, respeite a torcida e cidadania alheias. Ao invés de mostrar essa absoluta falta de educação que é desrespeitar uma nação amiga, vaiando seu Hino nacional, guarde seu fôlego, deem às mãos e façam o concreto superfaturado de nossos estádios tremerem aos primeiros acordes da nossa mais bela música.
PS – Gostaria de agradecer a Minha querida Professora Edna, nas aulas ministradas de Educação Moral e Cívica (sim, eu tive) no longínquo ano de 1985, na 5º série de uma escola da Prefeitura de São Paulo, pelo embasamento ético para compor essas linhas.