Eu, professora de chá

Tornei-me eu, professora de chá também.

Dizem as más línguas que “língua grande paga com o próprio veneno”. Eis que estou aqui a ensinar um chá de alho à uma colega doente. Minha companheira de aventuras não pode me deixar na mão e amanhã é domingo! Dia de passear, dirigir, papear, filosofar e ver o mar.

Ela tem dificuldade em acender o fogo no fogão. Eu na ânsia de não esquecer o passo a passo do chá, tento auxiliar (por telefone, veja a ironia) a colega com uma pequena dica sobre estes fogões de acendedor automático, onde temos de girar e empurrar ao mesmo tempo o botão para que o mesmo libere gás suficiente para que aquele barulho infernal do acendedor elétrico transforme em chama o gás disperso ao redor da boca do fogão.

Sou interrompida. O “Compêndio sobre como acender automaticamente a chama do fogão de acendedor automático” não se faz necessário depois da briga grande que ouvi entre ela, o fogão e o barulho infernal do botão do acendedor automático. Fez-se o fogo!

Ainda do outro lado da linha ouço a tosse seca, daquelas que incomoda e coça naquele cantinho da garganta que se fosse por nossa vontade coçaríamos com as próprias mão lá dentro, de tão agoniadas que ficamos.

Ela está a comer lascas de gengibre enquanto a água enche a panela. Não muito, só uma xícara. E o dilema vem: alho dentro da panela ou dentro da xícara?

A professora sou eu mas ela é uma aluna rebelde. Põe o alho na xícara e neste ínterim a água já ferveu mesmo. Água na xícara, abafa, espera.

Chá de alho na xícara, gengibre na boca, “Vick” no nariz. A secretária prometeu um lambedor de romã amanhã, diz ela.

Munida com as “armas de Jorge” contra o dragão da gripe, ela só precisa aguardar. A professora de chá já cumpriu seu papel, a amiga espera que ela fique bem logo. Amanhã é domingo!

Kátia Santvs
Enviado por Kátia Santvs em 30/04/2015
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