JORGE DA CAPADÓCIA

Jorge, o protetor espiritual, me vem à cuca no dia que é a si dedicado. Dobro os joelhos e bato minha cabeça pausadamente na mãe-terra, em saudação atávica. Toda vez que o cerco dos dias me aperta contra a parede, é ele – o meu ogum de coco – que salva das iniquidades e me convida a ser mais e melhor. Também na poesia, em que ele aconselha a persistir no esforço do recriar, dotando-me da necessária paciência para esperar que se consiga chegar à forma exata, respirando a humana dimensão da condenação compulsiva à criação: uma recorrida pelo céu das dúvidas. Meu zeloso guardador e orientador de atos e ações. E me vem a sua imagem canonizada. Sempre de lança em riste: o bom soldado a serviço da humanidade. De prontidão para ajudar nas sequelas do Amor e do Ódio – que é o outro limbo do polo amoroso – estímulo vivaz também necessário para quem está no mundo da temática sentença a que ninguém escapa: ajudar a construir o conviver neste plano de cotidianas descobertas e surpresas, fundindo as suas com as pressupostas ideias nas cabeças do semelhante. Porque viver é um exercício constante de benevolência entre um e o Outro. Assim Jorge me aconselha em sua altivez de imagem, na humildade de guerreiro das forças do Bem. Ogunhê!

– Do livro A BABA DAS VIVÊNCIAS, 2013/15.

http://www.recantodasletras.com.br/cronicas/5224489