QUAL O PIOR PRECONCEITO?
É aquele que brota dentro de nós e em forma de trepadeira, cresce, ultrapassa o muro e invade o vizinho.
Durante dois anos moramos num beco, no primeiro dia de aula, eu com cinco anos e a maioria com sete ou já beirando-o a professora Clara pediu que cada um fizesse a sua apresentação (como fazem até hoje), lá pelo meio da chamada eu disse meu nome e não falei onde morava, então a professora perguntou meu endereço, respondi que não lembrava, a minha irmã apressou-se e lascou:
- No beco do Seu Canto, na última casa!
Pronto, aquilo doeu-me como uma chinelada, para quem teve este privilégio sabe que é uma dorzinha e momentânea, tanto que lembro até hoje.
A vida é cheia de becos, mas o Sem Saída não é o pior deles (como se becos tivessem saídas visíveis, becos são becos e pronto), o pior é o da Morte, na Vila Bom Jesus, que a prefeitura jura que transformou-o no beco da Vida.
Durante a minha vida profissional frequentei centenas deles, uns nem eram batizados ainda, como a das Sete Facadas, na Vila dos Sargentos, bem vizinho da Alameda de igual nome, mais recentemente, quando trabalhei na depuração da base de dados dos logradouros da segurança pública conheci a diversidade de denominações que põe as pessoas no mapa, quase sempre pelo comparecimento da polícia numa desgraça qualquer.
Atualmente o beco do Seu Canto é a Alameda Álvaro Oliveira do Canto, bem mais aprazível.
Quem sabe vereador Comassetto: diga lá se já moraste num beco!
O vereador apresentou projeto na Câmara de Porto Alegre para substituir a denominação de logradouros, daquelas personalidades que desempenharam cargos públicos entre os anos de 1964 e 1981.