MAIS UM CASULO QUE VIRA BORBOLETA

Não é apenas mais um corpo que cai, mais uma história que se encerra, mais uma identidade descartada! É a hipocrisia de uma sociedade, o discurso de ódio de uma população pseudomoralista, a falta de oportunidade e a negação de direitos de igualdade para uma vida plena, uma vida de respeito e de respaldo. Mas fazer o quê? A família muitas vezes se omite, a escola exclui, a sociedade joga pedras e quem quiser que se ache, se encontre, se camufle nos escombros do preconceito, da falta de aceitação e de respeito à diversidade! Mais uma mulher trans que não aguentas os subterfúgios da hipocrisia, que decide mudar de plano de vida, de deixar o corpo cair por terra porque nesta terra não há espaço, ou não querem que tenha espaço, para todos. Cala-se a voz, aumenta-se a estatística de violência em todas as cidades do Brasil e do mundo contra a comunidade LGBTT. Quem vez os olhos brilhando não consegue enxergar a escuridão instalada por detrás da retina. Decidir-se por uma identidade de gênero e lutar contra tudo e contra todos pela construção de uma identidade esfacelada por todos os segmentos de afeto e sociais não é fácil. A morte entre as mulheres trans é alarmante, chama a atenção! Muitas não aguentam a pressão: muitas tiram a própria vida, outras são ceifadas pela transfobia, tantas outras já estão mortas em vida porque é negado a elas o direito à vida, muitas outras ainda nem existem porque não são compreendidas, chamadas de gays, de viados, de homens, de macho sem vergonha, de abominação, de manifestação do pecado e do demônio...

Não é apenas mais um corpo que cai, mais uma história que se encerra, é muito mais que isso! É a materialização do desrespeito, da ignorância, do preconceito e da falta de liberdade de poder encontrar a igualdade e de vivê-la plenamente como está assegurada na Constituição Federal de 1988. Não é um suicídio egoísta, que acontece do nada, mas é a construção da falta de compreensão, de entendimento, de poder ressignificar a vida para se viver em sua plenitude: amar, construir família, estudar, caminhar livremente pelos espaços sociais sem ser apontada como abominação, ter direitos e políticas públicas como qualquer outra cidadã ou cidadão...

Para nós que almejamos a inclusão e o respeito aos diversos fica o compromisso de engrossar a voz, de não baixar a cabeça, de não deixar de importunar a sociedade, de fazer zoar que é preciso cada vez mais lutar pelo respeito aos diversos, mais compreensão às identidades de gênero.

Marcus Vinicius