Imagem de Maria da Glória




MADALENA
 
                                              
       
 
É noite, a chuva cai, a temperatura baixou, mas não estou triste. Apenas uma expectativa, um esperar que se prolonga e uma saudade que traz melancolia vêm habitar meu ser.
Volto mais uma vez ao quarto. Quantas vezes já fiz o mesmo? Seguro os marcos da porta, olho as cortinas de cor rosa com desenhos de menininha, percorro o olhar sobre a cama, o mosquiteiro, os bichinhos, o móbile e voo para a prisão, onde tua inocência está encarcerada. Mas não ouso permanecer. Não. Alí, tua guardiã não me aceitaria, mesmo que eu jurasse que meu amor por ti é sem interesse de posse, de propriedade, de permanência; meu amor por ti é de cuidado, de seiva para fazer crescer, ainda que seja em outro jardim. Bastar-me-á contemplar-te, linda, viçosa, saudável.
Acaricio o travesseiro e sinto o perfume de tua cabeça, ouço o arfar de teu peito, no sono da liberdade.
Sei que a prisão está em meus olhos e em meus sentimentos, que, embora literalmente atrás das grades, não a vês nem as sentes, acalentada nos braços de tua mãe. Sei disto e de mais um pouco.

O sentimento é meu, quando te devolvo, depois de rápida liberdade, para trás dos muros frios do estabelecimento prisional.
Sei que nem percebes, que vicejas alegria no teu tenro viver.

E, quando viro as costas, eu é que me sinto aprisionada, sem a tua presença. 


( PS. Madalena veio para mim aos oito meses. Hoje, tem oito anos e  me completa de alegria. )



 
MADAGLOR DE OLIVEIRA
Enviado por MADAGLOR DE OLIVEIRA em 25/04/2015
Reeditado em 25/04/2015
Código do texto: T5220093
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2015. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.