Aniversário, por que eu nasci?
Há amigos que comemoram seus aniversários com antecedência; para eles, com a antecipada preparação, inicia-se a comemoração. Exemplifico João Saraiva que, no mesmo dia da festa, já guarda o vinho que sobrou para o próximo ano e começa a planejar como será a roupa do futuro dia, quais serão os pratos e os amigos convidados, não tolerando ausências. Acho isso interessante em razão da minha falta de atenção ao meu aniversário e à sua comemoração; modéstia à parte, até merecida, já que procuro viver intensamente a vida, dando-lhe significado; se não o consigo, que me presenteiem alguma ajuda... Se displicente com a data do meu, imaginem como sou em relação às datas dos aniversários dos amigos. Nesse sentido, decepciono os mais próximos, até netos e netas que já não aguardam de mim presentes, lembrando-me indiretamente esses dias. No entanto, recomendo que nunca esqueçam duas datas: a do aniversário da companheira e a do casamento...
Alertado de que “vem aí seu aniversário“, reservo horas à curta viagem a Pilar, onde procuro a casa da minha infância, entro no quarto onde nasci e acaricio as preservadas paredes de taipa; admiro as telhas e reencontro os buracos por onde, em noites insones, passava a luz das estrelas, socorrendo o menino com medo do escuro. Dirijo-me ao quintal, hoje, ocupado por casas, e relembro o sítio, curto caminho ao rio Paraíba. Confesso, acontece terapia. Ainda, isso nutre amor ao passado e à conservação da memória.
Alertado de que hoje é o aniversário, reservo momentos para refletir como tenho vivido a vida; o que realizei no banquete da existência; se tenho servido apenas a mim ou também aos convivas ao meu lado. Reconheço a força maior da própria sobrevivência, mas que ela pode ser também posta a serviço dos outros. Observo pessoas próximas à comemoração do centenário, às quais ainda não chegou a hora do esquecimento; é possível, especialmente, aos mais jovens, cabíveis e adequadas perguntas, enquanto há memória: Por que eu nasci? Por que eu vivo? E antes que terminem os festejos de tais datas: Para que eu nasci? Para que eu vivo? Revistas verdades pelas quais lutamos, resta-nos uma final: a vida, como a de uma árvore, é bela e efêmera... Pergunta a si o cronista Rubem Alves: “Onde estive eu (...), durante bilhões de anos, que vão do “big bang” até o meu nascimento?”