Em defesa da democratização da carga horária no Ensino Médio
Escrevo este artigo em nome de todos aqueles colegas que passam por alguma situação semelhante a que vou relatar. Para que saibam, sou professor da rede pública estadual, no município do Rio Grande/RS, e leciono a disciplina de Filosofia, no Ensino Médio.
Do mesmo modo como alguns colegas de outras disciplinas (como Artes, Língua Espanhola, Literatura, Sociologia, entre outras), sofremos um processo de “precarização” do nosso trabalho. Não falo aqui do não pagamento do piso salarial, da falta de estrutura física das escolas. Falo sobre a reduzida “carga horária semanal de aula” que temos para desenvolver o nosso trabalho. Na minha escola, assim como em outras deste Município e do Estado, a minha disciplina tem apenas “uma hora/aula” semanal (o que equivale a 45 ou 50 minutos) com cada turma, no Ensino Médio Politécnico. Com este “ínfimo” tempo, não dá para desenvolver o trabalho com a qualidade desejada. Não é possível trabalhar um conteúdo e desenvolver um debate, com continuidade, durante a aula; não é possível assistir a um filme; se tem feriado em algum dos dias de aula, só nos encontraremos com os alunos em duas semanas. É uma situação que prejudica substancialmente a qualidade do ensino.
Um outro ponto muito importante, é o fato de que quanto menos horas/aula a disciplina tem, mais turmas o professor deverá assumir. Vou citar um exemplo: se o professor é concursado com 20 horas, das 15 horas que terá que cumprir na regência de classe, deverá assumir 15 turmas. Supondo que cada turma tenha em média 25 alunos, esse professor terá 375 alunos sob sua responsabilidade. Se, por outro lado, a disciplina desse mesmo professor fosse de duas horas/aula, nas mesmas condições, ele teria 8 turmas e 200 alunos. A diferença é enorme, em todos os aspectos!
Nessas condições, torna-se uma “utopia inviável” o respectivo professor participar de cursos de formação continuada, se na sua prática diária não tem tempo suficiente e nem condições físicas e psicológicas para fazer a mudança que deseja, como o trabalho interdisciplinar, a avaliação emancipatória, entre outros.
Enfim, deixo aqui o meu apelo para que em todas as escolas, tanto daqui como do Estado, haja um debate entre o corpo docente e a comunidade escolar, objetivando a democratização da carga horária. Deem voz para os professores que têm essa carga horária reduzida. Escutem o que eles têm a dizer. A força maior para essa mudança está dentro da própria escola, pois a mesma tem autonomia nesse sentido. Já faz alguns anos que tenho observado a repetição desse mesmo problema. Está mais do que hora da mudança, ou então, de muito pouco valerão as discussões que estamos fazendo em defesa da qualidade da educação pública de nosso País, se na nossa própria escola não oferecemos uma qualidade mínima para todos os professores.
*Publicado originalmente no site do Jornal Agora (Rio Grande/RS): <http://www.jornalagora.com.br/site/content/noticias/detalhe.php?e=5&n=71850>. Data: 23 abr. 2015.