ECOS...

Frente a ampla janela, parou absorta, olhando o tempo través da vidraça translúcida.

Dissipando o seu vago olhar, seus pensamentos pareciam descontínuos e retorcidos...

Deu mais um passo e descerrou repentinamente as janelas, de par em par.

Momentaneamente, a paisagem pareceu-lhe congelada e petrificada.

Em seus olhos, uma lágrima que insistia em rolar, turvando-lhe os sentidos por um milésimo de segundo, quando tudo lhe pareceu ainda mais enevoado.

Aos poucos, mil pensamentos velozes foram se acotovelando, querendo florar. Mas ela escolheu apenas um...

Porque eu? O que fiz de errado? Como continuar?

A chuva que principiara fina e suave, começava a desabar com mais intensidade e aos poucos ficara forte, estridente e raivosa. A fúria da tempestade vinha em um crescendo ensurdecedor.

Foi quando percebeu fascinada, que poderia de algum modo, suavizar a grande angústia que a oprimia naquele momento... E não se conteve.

Começou então, a elevar a voz, sem nenhum receio de ser ouvida, sem medo, sem critério e sem pudor, pois pressentia que ninguém ao redor a poderia escutar... E gritou, gritou muito forte e estridente, a mais não poder e a plenos pulmões. AHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAH!!!...

À semelhança de uma corrente elétrica que percorria todos os meandros, cada ondulação, cada célula, cada neurônio, cada artéria, indo das suas entranhas até aos portais do tempo.

Tomou, depois, uma inspiração profunda e demorada, prendeu o ar, expirou lentamente, fechou os olhos e sentiu uma leve tontura, sendo invadida e arrastada por uma sensação que adentrava em átomos, vias, veias e capilares... E sua pulsação começou a serenar.

Certamente, seu clamor e suas lágrimas, haviam atravessado os ares varrendo e clareando as nuvens densas e cinzentas daquela insondável muralha etérea, antes, intransponível para ela.

O seu brado, ultrapassou o temporal, o ar, a estratosfera, o sol encoberto e resvalou em algo...

Repentinamente, ouviu-se um eco, o qual se transmutou em vários tons e cores suaves de um cintilante arco-íris, que parecia findar em sua janela.

Será que eu morri? Pensou...

E muito lentamente, a paz prazerosa e intrínseca, desceu sobre ela. Uma brilhante e intensa claridade, invadiu o ambiente. Sons e doces nuances foram se espalhando e tomando conta dos seus sentidos, cavernas, labirintos, sótãos e porões, ungindo cada recanto e canto seu.

E até mesmo quando não se consegue visual as estrelas, o sol, a luz e a claridade, tudo continua lá, brilhando e fulgindo, de modo atemporal, escondido apenas por um fog aleatório.

Então, novamente, fez-se a paz.