UM ABRAÇO DE CONCRETO
Há anos eu percorro o mesmo caminho.
Quando lá chegava,embora meu trajeto fosse extremamente agitado,conturbado por trânsito e poluição, elas me abanavam carinhosamente, acalentando o início do meu dia.
Eram como se fossem leques gigantes, a resfriar o mormaço quente que exalava do asfalto derretido pelo calor das horas anteriores.
Enfeitavam o cenário em grande estilo e farfalhavam, a quem se dispusesse ouvi-las, um leve cochicho de folhas frescas, norteadas pela direção da brisa.
Serviam-se aos ninhos de pássaros diversos,e bem lá no alto,sempre no seu último galho que tocava o céu,um canto matinal apoiava o seu primeiro ensaio,e eu sentia-me ternamente recepcionada.
Recentemente, voltando de férias, não mais as encontrei.
Senti que a mudança do cenário me apertou o peito, embora tivesse reconhecido e aproveitado todo aquele carinho que me fora fornecido por quase quinze anos.
Deve ser bem mais doloroso quando perdemos o aconchego sem tê-lo percebido por perto.
Naquele local , plantara-se um vazio que se igualava ao meu peito, pois delas me faltava o abraço.
Mas nas grandes cidades,não se permite mais o luxo dos espaços considerados “vazios”,mesmo que estejam preenchidos por vida!
É do mundo...é do progresso.
Agora, arranha-céus apossaram-se desordenadamente do que antes era um terreno fértil de carinhos, e hoje, todas as manhãs,logo que chego,sinto-me extremamente enclausurada,apertada... com se enlaçada por um abraço de concreto.