Reflexos
Os espelhos estão em lugares diferentes da casa.
Mas raramente observo meus olhos
Apenas minha aparência física.
Meus olhos castanhos, pequenos, saudosos do passado, temerosos pelo futuro.
Envelheci, os filhos cresceram, sinto-me sem importância às vezes.
Um romance já não existe há muito tempo.
Virou rotina ou cansei de lutar pelo amor.
As vezes fico num canto da casa, lendo, ouvindo música,escrevendo, nem sou percebida.
Sei que meus olhos não são os mesmos de tempos atrás.
Antes eram maiores e tinham o brilho da juventude, da esperança, do amor.
Eram meigos pelo carinho oferecido e recebido, agora fito o espelho; os olhos muito me dizem, solidão, dor, saudade.
Os cabelos sempre mostram uns fios brancos estão cada dia mais finos e poucos.
A pele agora desenha os sinais da idade, ressecada, o rosto não é mais redondinho, é oval, o furinho no queixo quase não aparece mais.
O corpo está mudado também.
As mãos são as mesmas que trabalharam que ninaram que cozinharam com amor, plantaram rosas, se espetaram com os espinhos.
Mãos que abraçaram, deram o remédio, lavaram e passaram e agora escrevem, digitam. É a modernidade.
O espelho não mostra o que se passa na alma, no coração, na mente.
O espelho apenas reflete.
Os olhos sim mostram meu interior, refletem o que se passa em minha alma, em meu coração.
Não gosto de me fixar sempre no espelho.
Os olhos costumam deixar cair lágrimas pelo descaso de um amigo, pela perda de um amor, pela indiferença de um filho.
Choram também quando um ente querido ou amigo vai embora para sempre ou sai da minha vida.
As lágrimas costumam deixar um nó, um aperto no peito, chora todo o corpo.
Estes mesmos olhos que dormem e sonham acordam para um novo dia.
Estes mesmos olhos que costumam ter insônia e buscam na escuridão do quarto à solução de problemas existenciais.
As vezes falo para ferir.
As vezes ferindo, me arrependo e volto a amar e ter amizade.
Por quem me traiu, me magoou.
Ofereço carinho para voltar a sorrir.
Perdoo.
Recebendo atenção e carinho me sinto criança
Crianças renovam minhas esperanças.
Minhas alegrias, minha criatividade, minha infância recomeçada.
Sou humana suficiente para ser boa.
Perdoar, mas esquecer nem sempre.
A traição é amarga, dolorida, deixa marcas na alma.
O sentimento do ódio modifica um ser, eu não odeio, não consigo.
Também não invejo, sentimento que abomino.
Passando pela vida vou experimentando sentindo, avaliando as consequências fazendo dos erros, lições.
Aprendendo de novo, viver!