VAI PERDER AS "BOLINHAS", CACÁ!!
Enquanto solteira, em minha casa convivemos com muitos cães, periquitos e cágados, mas gato só tivemos um: o “Tenente”. Ele foi dado à minha mãe, já batizado assim por “puxassaquismo” (meu pai era militar e tinha essa patente na época) de alguma de suas muitas comadres. O felino era branco, tinha um olho azul e outro amarelo, e era enjoadíssimo: adorava ficar se enroscando nas nossas pernas.
Naquela época, acho que poucas pessoas gostavam de gatos, pois eu me lembro de uma história corriqueira, contada ao entardecer nos tempos em que quase ninguém tinha televisão: “Quando Jesus Cristo andou pela Terra, certa vez, ele pediu água a um gato e o infeliz fez xixi em uma caneca e a deu ao nosso Senhor!!” Olha só que infame, gente! Os adjetivos pejorativos eram muitos: “bicho pestilento”, “ladrão”, “transmissor de toxoplasmose”...
Nunca os quis em minha casa, mas jamais os hostilizei. Conheci, contudo, pessoas perversas que os envenenavam, os pescavam com anzol ou deles faziam churrasquinhos. Esse tipo de ato revela as almas covardes desses tipos de sujeitos, por isso espero que Deus os deixe vivos durante muito tempo, pagando, aqui na Terra, por seus crimes.
Quis a vida, porém, que meu filho caçula ame animais e, em especial, os felinos. Como não temos um quintal que nos permita criar cães, ele optou por ir à Zoonoses de Linhares e pegar uma gatinha recém-nascida, a que chamou de Ang. Branquinha com um capacetinho castanho, olhos azuis, andando tropegamente, a danadinha conquistou nossos corações, e até hoje só bebe água em nossas mãos ou, diretamente, da torneira. Quando ficou maiorzinha, nós a levamos para esterilização e ela voltou igualzinha ao satanás!! Acho que a veterinária a transmutou para cadela, pois ela rosna, “risca fósforo” e é o terror das diaristas e faxineiras, que, eventualmente, trabalham em casa!! Nessas horas eu a chamou de Ang... ÚSTIA!!
Dois meses após a vinda de minha primeira “netinha”, ele resolveu ir ao mesmo local e resgatar uma outra recém-nascida e a essa ele batizou como “Sthel”. Tethel, para os íntimos, é pretinha como ébano, tem grandes olhos redondos, esverdeados e tímidos, é o supra sumo do dengo, e mia como se estivesse sentindo dor, quando eu a aperto muito (como o faz a personagem de quadrinho “Felícia”). A essa nós não quisemos castrar, não apenas pelo preço “salgado” desse tipo de procedimento cirúrgico, mas pelo medo de ela se transformar em um capeta pitbul também. Temos preferido conviver com os miados enjoadíssimos dela, quando entra no cio.
Achando que era pouco, há quatro meses, em uma tarde chuvosa, ele resgatou um filhotinho preto, de pelo todo eriçado, olhos cor de caramelo, que estava prestes a virar alimento canino, já que caminhava, tropegamente, para um quintal onde havia dois Rotweillers. Ao saber de sua história e ao vê-lo tão sapeca, eu me apaixonei e o batizei como “Peralta”, meu querido “Pepeto”, o mais brincalhão de todos. Mal sabia eu que junto com ele viera um carrapato, que adorou o sangue da Thetel, quase a matou com febre maculosa, e mina meus bolsos com a veterinária até hoje.
Essa história toda significa $$$$ e severa vigilância diuturna. O primeiro porque é preciso consultá-los, vaciná-los, colher sangue, comprar areia e xampus especiais, e ração e sachês de boa qualidade. O segundo, porque nós não os deixamos sair, absolutamente, pois tememos que eles incomodem algum f.d.p , descendente daqueles personagens do 3º parágrafo dessa crônica. Para evitar isso, nós temos muros altos e mantemos portas e janelas fechadas, se eles estiverem por perto.
Agora, estamos enfrentando um novo desafio: um “cheira cola” de cor branca encardida, morador de rua (acho), pula todo dia dentro do meu quintal, fica miando indecentemente (querendo conquistar nossa Tethel!) e dorme em cima de minha máquina de lavar roupas!! Por pena, nós o temos alimentado e “agradecidamente”, agora, ele quer entrar dentro de nossa casa, quer ser meu “neto”, e me arrumar mais uma prole...
Como não pertenço aos seres que batem, escorraçam, maltratam ou envenenam animais, acho que vou adotar o “Cacá” (apelido de Encardido), também, mas para tal vou ter de conhecer suas unhas (dar-lhe-ei um banho caprichadíssimo) e, a seguir, o levarei à veterinária para que ele perca as “bolinhas”.