UM TOMBO
Um padecimento emocional.
Esta é a expressão correta.
Em um átimo, o sofrimento inevitável, que parecia ter a duração de uma vida. Cônscia de que não haveria outro jeito, a não ser estatelar-me no chão, mais exatamente, na calçada.
Tentei evitar, lutei com os pés descompassados, senti o desarranjo pelo qual passava em frações de segundos, mas foi impossível ajeitar aquela situação.
Conscientemente, caí. Ao comprido, com o rosto pregado na calçada. Vontade tive, mas agi “como as mulheres negras, que apesar de todo sofrimento se negam a chorar”. Perdoem a despudorada comparação. Senti-me frágil, solitária e triste. Em suma, a emoção autêntica de um estado impotente e inoperante.
Repentinamente, vi a rua da mais rente posição. Eu, um rodapé humano. Sem forças, com todas as dores do mundo. E não eram as de Drummond, eram minhas, absolutamente minhas.
Mãos generosas surgiram, para colocar-me novamente em pé. Agradeci e pedi desculpas, por ter proporcionado aquela dantesca visão.
Segui meu caminho, com a alma e o corpo machucados. Ambos ainda doem e sofrem. Há a angústia daquele instante e as dores físicas.
Porém, a grata e inesperada conclusão de que, anjos, chegados do nada, existem. Seres que se preocupam com o outro e que oferecem a mão, para ajudá-lo a levantar-se.
Levantaram-me e as lágrimas vieram depois, bem depois. Diante de quem as entendem.
Dalva Molina Mansano
10:29
20.04.2014