Um ladrão

O indivíduo estava na porta de uma humilde residência, fingindo bater palmas. Vi nitidamente as mãos do dito cujo encostarem muito de leve. Pensei: “Porque será que não encosta as mãos com força?” Senti um friozinho na espinha pressentindo que aquele rapaz mal vestido e desconfiado iria aprontar alguma coisa e provavelmente, eu seria o alvo.

Continuei a caminhada, fingindo não vê-lo. A casa em que ele estava parado a observar-me ficava do outro lado da rua. Estava arrependida por não ter pegado o ônibus ao invés de ir a pé para a igreja. Tudo para economizar o dinheiro da passagem. Antes tivesse ficado lisa mesmo. Agora sozinha, presa fácil numa rua deserta. À medida que me aproximava, um calafrio percorria-me a espinha e começava a pensar numa solução rápida. O que fazer numa situação dessas? Correr ou gritar? Não sabia, pois a rua continuava deserta e eu andando fingindo não me preocupar.

Quando consegui passar por ele, dobrei a esquina, senti uns passos bem atrás de mim. É agora! Comecei a correr loucamente a procura de socorro. O sujeitinho também corria quase me alcançando. Corremos tanto que chegamos numa praça. Eu na frente e ele atrás, como Tom e Gerry. O cansaço já começava a tomar conta de mim. Passei a correr em círculos em volta do banco da praça. O ladrãozinho também. Num vacilo meu, ele me alcançou. Foi puxando minha bolsa e dizendo:

- Passa a bolsa, logo. Ligeiro. Já basta o tempo que você me fez perder correndo. Falou bufando de raiva puxando a minha bolsa.

Naquele exato momento imaginei que o delinquente não estivesse armado, ele estava muito nervoso e tinha pressa em terminar o provável assalto. Bem, pensei, pensei... Decidi então testá-lo, para saber mesmo se estava desarmado.

- Muita calma nessa hora! Não é assim que se aborda uma jovem senhora. Que maneira mais mal educada. Não irei dar minha bolsa. Mas poderemos negociar de maneira civilizada. – Argumentei pedindo a Deus que me livrasse dessa.

Ele olhou-me, talvez não acreditando no que ouvira. Ficou parado, demorou uns segundos e disse:

- Oxe, deixe disso! Tenho tempo pra negociar não dona. Passa a bolsa e deixo à senhora ir embora.

- Claro que não darei. Se for dinheiro que você quer escolheu a pessoa errada para assaltar. Portanto, não vale a pena levar minha bolsa sem necessidade. - Falei na maior calma do mundo por fora, porque por dentro estava só o desespero. Continuei. - Sabia que Deus pode mudar toda essa situação da sua vida? Basta crer e ter fé o suficiente para que Deus possa operar. Não vale a pena servir a este mundo meu querido. Vamos até a igreja comigo e tudo poderá mudar.

O metido a esperto pensou um pouco. Parou de puxar a minha bolsa dizendo:

- E um real, a senhora tem? – Usando o último recurso, quase implorando.

Observei-o por cerca de alguns minutos tentando decifrar o que realmente passava na mente daquele jovem.

- Deixe-me ver. A bolsinha de moedas deve estar aqui em algum lugar. - Abri a bolsa e retirei item por item: o estojo com óculos, a sombrinha, o pente, a minha bíblia. Tudo, menos a bendita bolsinha de moedas que não dava sinal de vida. Foi quando tive uma ideia.

- Tome a minha bíblia. É sua! Não tenho o dinheiro que você quer, porém, leve algo melhor: a palavra de Deus.

Mas, quando o aprendiz de ladrão viu a demora, perdendo a paciência, resolveu pegar a bíblia deixando-me assim seguir meu caminho, depois do susto. E que susto!

Espero que a semente dê frutos!

Debora Oriente
Enviado por Debora Oriente em 20/04/2015
Reeditado em 14/09/2018
Código do texto: T5214401
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