Dia de encanto
Dia de encanto
Houve um tempo, que o dia de sábado era para mim um dia muito feliz, de encantamento. Não era porque eu ia ao shopping, saia para comer pizza ou qualquer outra diversão, simplesmente era o dia que meu pai não trabalhava à tarde. (Que minha mãe não saiba disso, já que passava todos os dias conosco.)
Como era bom limpar a casa com minhas irmãs (uma mais velha e outra mais nova), encerávamos o piso verde com cera em pasta, derretida no fogo e misturada com bisnaga verde. Os poucos móveis eram encerados e polidos com um óleo apropriado, isso só era feito pelo papai, quando ele chegava, já meio-dia, pegava um paninho e passava-o embebido com o óleo sobre os móveis. Como ele era apaixonado pelo tal produto!
A casa que era pequena, só com cozinha, que servia de sala e dois quartos, no dia de sábado, ganhava um novo aspecto, para mim era a melhor casa, o melhor lugar do mundo, pois meu pai estaria conosco o resto do dia. Quantas saudades!
Lembro-me nitidamente, que meu pai chegava, poucos minutos depois, chegava o moço do mercado com a compra da semana. Poucas coisas, mas o bastante para nos suprir durante uma semana inteira, até chegar o próximo sábado...
Sei que a fase de início de adolescência dava a esse período uma cor, um sabor especial. O tempo passou, meu pai já partiu. Já não tenho mais uma casa com piso, nem sei se ainda existe cera em pasta.
Até hoje, o dia de sábado para mim é sagrado: Acordar, fazer faxina, agora não mais em uma casa com piso verde e alguns móveis de madeira, a modernidade me tirou isso. E as compras? Agora mesmo acabei de chegar do mercado (o moço não veio entregar as compras, pois tenho meu próprio carro). Mesmo que muitas coisas tenham mudado, mas uma coisa permanece: O encantamento dos meus sábados.
Izabel de Brito Silva.
Formada em Letras/Português pela Universidade Federal de Rondônia.
23 de agosto de 2014.