CHORAR O NADA

Chorar é transcender o que não se quer dizer aos outros. Não há nenhuma outra manifestação corpórea que seja tão característica do feminino. É o bálsamo espontâneo da dor e/ou da alegria, apertando a garganta. A lágrima encobre o sigilo como a sombra esconde a imagem autêntica. Ambas tornam inexpressivas e obscuras as silhuetas do sol sobre a terra e a da chuva ante o mesmo sol. No entanto, a lágrima fala por si em seu mutismo, mesmo sendo o reverso da falante alegria. E eis que chega a amada louca, cega de ciúmes – ciente de amar o Grande Nada e botando a boca no mundo. Pobre do cliente do divã do psicanalista...

– Do livro O POESIA DE ALCOVA, 2014/15.

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