UM CAPITÃO DESOLADO
- Lamentavelmente foi o destino!
O destino existe? A fatalidade é uma realidade insofismável?
Será que o destino é a concepção de uma sucessão inevitável de acontecimentos obedecendo a uma possível ordem cósmica? Às vezes fico em dúvida.
Meu pai me contou uma história muito relacionada a isso, e eu escrevo exatamente tal qual ele me relatou.
Vamos lá então!
Ele servia o exército na Companhia dos Sapadores em Pedra Preta.
A Companhia trabalhava na abertura da estrada.
O sistema de transporte da tropa era bastante precário e radical; usava-se, para o transporte dos soldados, caminhão basculante.
Um dia, o caminhão estava apinhado de soldado em cima da caçamba pronto para sair. O capitão chegou bufando soltando labaredas pelas ventas. Seu motorista particular – o chamado bagageiro - não tinha deixado o leite preparado para seu café.
Dirigindo asperamente ao seu bagageiro diz:
- Hoje você vai para frente de trabalho!
Apontou para um soldado, que estava em cima da caçamba, fazendo-o descer dizendo:
- Hoje você vai ser meu bagageiro!
Naquele dia o capitão amanheceu mesmo com os grãos trocados ou sua mulher tinha dormido de calça. Foi até ao cárcere e dizendo ao prisioneiro:
- Chega de moleza, você vai trabalhar hoje!
Apontou para outro soldado que já estava no caminhão pedindo para que descesse.
Ao passar pela enfermaria o soldado enfermo suplica ao Capitão:
- Não aguento mais ficar nessa cama, quero ir trabalhar na abertura da estrada. O médico tinha recomendado repouso total.
O Capitão não se fez de rogado ao apelo do soldado adoentado, e fez descer o terceiro soldado para que o enfermo tomasse o lugar dele.
O capitão entrou no alojamento pisando duro sem ver o caminhão perder-se na poeira da estrada.
Meu pai contou que nesse dia estava de folga.
Perto do almoço um esbaforido desconhecido, a galope, passa gritando:
- A guerra começou, tem um monte de soldado morto na estrada!
O capitão estranhou aquele mensageiro e se perguntou:
- Mas que guerra?
Bem ao entardecer a tragédia foi desvendada.
Um carroção chega trazendo muitos feridos e oito mortos.
O momento era funesto e lamentoso.
- O que aconteceu? Desesperado grita o capitão.
- O caminhão caçamba tombou quando chegava! Respondeu o carroceiro todo ensanguentado.
Dois grupos de trabalho foram designados; Um para atender os ferido e outro para preparar os cadáveres. Meu pai ficou no segundo grupo construindo as urnas mortuárias e preparando os mortos.
Quando o capitão conferiu os mortos ficou inconformado ao ver que entre eles estavam seu bagageiro, o prisioneiro e o enfermo que ele fez subir na caçamba. Pôs a mão na cabeça e inconsolável aos prantos gritou:
- Eu sou o culpado pela morte deles! Eu sou o culpado!
Alguém, tentando consolá-lo, coloca a mão no ombro dele dizendo:
- Lamentavelmente foi o destino!