Deixe tudo pra lá, e viva sua vida em paz.
Lembro que na adolescência, uma vez voltando da escola (um caminho que fiz da minha 7º série ao meu Terceiro Ano) me vi pensando numa coisa, que há anos já vinha matutando. Bom... isso quer dizer que eu demoro para chegar numa conclusão sobre qualquer assunto (às vezes anos mesmo) assim como também que penso demais. Enfim... estava pensando num assunto que sempre me perturbou:
"A sociedade não me dá nada, mas sempre querer tirar muito de mim". Essa é uma reflexão bastante adolescente mesmo, e digo mais, de um adolescente nerd. Meio que a rotina era estudo, doença, doença e estudo, família, família... doença, etc. Então meio que era comum eu pensar assim, não apenas por mim mesmo, mas também por observar a vida de meus colegas.
Lembro por exemplo, que uma professora que me marcou muito, falava que "A maioria de vocês não chegarão nem a ser GARIS", e vendo como a vida realmente era difícil para todo mundo, eu mesmo nunca pensei em fazer faculdade ou algo mais -- um curso técnico e um bom emprego eram os sonhos... cursar o antigo CEFET idem... mas enfim.
Então cheguei nessa reflexão "A sociedade não me dá nada, mas sempre querer tirar muito de mim" não por causa de cobrança da família (Deus me abençoou com uma família maravilhosa) mas simplesmente, porque meus desejos dificilmente se "realizavam". Como pode-se ver, viver não é apenas ter o básico, o fundamental, mas também ter um docinho de chocolate, uma cobertura no bolo. Por mais que eu não reclamasse do meu bolo "normal", sempre tinha espaço para querer um doce de goiaba no meio e uma calda de chocolate na cobertura. E justamente este recheio que faltava.
Viver às voltas entre médico e escola não é uma coisa boa (passava maior parte do tempo internado aliás... por exemplo, na infância eram 3 meses no médico ou em casa, 2 meses na escola... no ensino médio o intervalo melhorou, mas ainda era uma rotina). E aquela falta do recheio, do chocolate por cima... Sempre fez uma falta danada. Sabe? Presentes. Coisa que você ganha por ser um bom menino, uma pessoa legal. Meio que a reflexão naquela época era correta.
Hoje... bom hoje, aliás antes de ontem, hoje não mais, eu passei uma boa parte do tempo tentando entender a totalidade das coisas -- o si e a sociedade em si. Eu sei... coisa de maluco e de ociosidade. Coisas que se pensam entre o buzu e a faculdade, entre a faculdade e o buzu. Passei bons anos (outra vez anos) tentando entender série de questões, das quais muitas alcancei resultado satisfatório.
Concordo que depois de muita análise, ainda penso que vejo muita coisa errada. Errada de errada mesmo. Digo no plano da ética e até do plano social. Não que eu seja o Superman e vá mudar o mundo (diga-se aliás, quando ele tentou mudar o mundo nas HQs deu MUITO ERRADO). Mas aquele incômodo de "aqui não é o meu ninho", "este não é o meu tempo", de vez em vez me assola.
Engraçado que apesar de saber não poder mudar o mundo, ultimamente fiquei misantropo (não vou traduzir a palavra, pesquisem a respeito). O que é uma contradição, porque bom, eu sou positivista e ser positivista é ter muita fé na humanidade. Mas tentar entender que as coisas estão erradas, que é assim mesmo, ou que não é assim e que eu não posso as entender -- muitas vezes as entendo, mas compreender é demais -- me têm deixando numa agonia...
Irônico também é pensar que eu na infância, lá na adolescência, era o primeiro do meio duma sala de 40, 50 alunos mais o professor, a defender coisas que hoje são "senso comum". Coisas que hoje em dia se vê na televisão (mesmo que expostas de um jeito ruim) e que agora me causam tanta... tanto incômodo. Continuo porém defendendo tudo (ou quase tudo), mas tentar pensar diferente porque não se concorda com tudo o que hoje em dia se fala, é um esforço psicológico -- e não lógico -- enorme.
É aquele jogo... tentar aceitar o que é vanguarda se dá pelo viés do entendimento. Se não há lógica durante a análise, ou se certos pontos são pontos discutíveis, o melhor a fazer é simplesmente "suspender o juízo" -- esperar um tempo até que estudos posteriores sejam feitos e se possa "dizer que sim, ou que não". É um jeito cético para simplesmente não aceitar tudo como uma "maria vai com as outras", já que todo mundo diz que A é A e só você acha que A não é bem A -- em vez de discutir, ou ter uma opinião dura... suspende-se o juízo, não se acha coisa alguma.
E em meio a este turbilhão, hoje cheguei a uma conclusão parecida com a que cheguei durante à adolescência. Na verdade, agora escrito, percebo que retirada do próprio ceticismo: "Não interessa se há incoerências nos pensadores, ou na vanguarda da sociedade, ou no jeito que a sociedade vive... não interessa. Desiste-se. Vive-se apenas. Não alheio ao mundo, não como se vivesse fora dele. Mas simplesmente em "suspensão", em paz de espírito -- com o tempo, se houver coisas a se consertarem, elas por si mesmas, se realizarão."
Ou seja... deixar tudo pra lá e viver sua vida em paz.