Mestre(s)

Ao longo da vida encontramos sempre uma pessoa que nos inspirou, quer no registo pessoal ou profissional, uma pessoa que, sem perdendo a nossa matriz, nos fez querer ser como ela, ou pelo menos que nos deu asas e nos permitiu ser como somos, quem somos, com todas as nossas imperfeições, mas nos fez aceitar estas, tentar melhorá-las, mas acima de tudo permitiu que fôssemos felizes.

Eu tive o privilégio de encontrar vários Mestres, referindo apenas nestes linhas um deles.

Ao começar o 8º ano a minha turma preparava-se para mais um ano de uma enfadonha disciplina de Português, pois dava a ideia que quem preparava esta expurgava-a da sua parte bela e deixava apenas a parte bem chata, com a consequente desmotivação da maior parte dos alunos.

Mas o meu português mudou para sempre desde a primeira aula com aquele professor.

Claro que dava a parte chata (tinha que o fazer, fazia parte do programa…) mas realçava a parte bela da nossa língua, “puxava” pela nossa criatividade ao lidarmos com ela, o que fez com que toda a turma se aplicasse e, para espanto dos seus colegas, alunos maus em todas as outras disciplinas faziam um brilharete a português…

Como?

A sua fórmula, como todas as boas fórmulas, era genialmente simples:

-Pedia-nos que fizéssemos composições sobre o mais diverso tipo de assuntos, com liberdade total, sendo a única condição a que usássemos bom português. Sem ele a mais brilhante, a mais criativa das composições tinha uma nota pior do que aquela mais sóbria, mais formal, mas escrita em bom português…

Esse professor, esse Mestre conseguiu o que muitos consideravam impossível porque se atreveu a sair fora do quadrado onde se formatam tanto gerações de alunos como de professores, porque se insiste em limitar caminhos, esquecendo-se que quem vai mais longe é sempre quem desafia esses limites, quem quer, quem precisa, de mais caminhos do que aqueles que lhes destinaram…

Ah…à sua popularidade ajudava também o facto, apesar de estar perto dos sessenta anos, de nos intervalos jogar (e bem…) futebol com a malta…

Miguel Patrício Gomes
Enviado por Miguel Patrício Gomes em 19/04/2015
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