Guerra dos Secos VIII - Nunca Mais

Sérgio era um garoto tímido. Sofria para conversar com as garotas da escola. Normalmente ele optava por pagar o lanche das meninas, numa clara busca de aceitação. Mas sua verdadeira paixão era Vera Lúcia. Olhos negros, inteligentes e penetrantes, aquela menina, pensava Sérgio, era o melhor resultado de um acordo, improvável, entre o conteúdo e a forma. Ele a achava tão bela, que tinha vertigens, na presença dela. Sentado duas cadeiras atrás de Vera Lúcia, Sérgio vivia o drama de olhar o quadro negro, ou comtemplar aquela menina que tanto o atraía. Às vezes Vera Lúcia se virava e o olhava com expressão interrogativa. Sérgio, rapidamente, desviava o olhar. Vera Lúcia nunca demonstrou qualquer interesse por ele. Se Sérgio sofria um arrepio ao cruzar seu olhar com o de Vera Lúcia, esta sempre tinha uma atitude impassível, uma expressão casual. Ele precisava fazer alguma coisa. Sofria por ser ignorado. Prometeu a si mesmo nunca mais ser um zé-ninguém.

Sérgio optou por uma solução radical. Em casa notaram a mudança. Sua mãe percebeu, mas não iria repreender o filho por estudar mais. Ela só não entendia a razão daquilo, mas julgou que o filho teria um forte motivo. Não estava errada.

Final do ano. A escola promovia uma confraternização entre os alunos. Também seriam anunciados os melhores alunos da escola, em termos de aproveitamento acadêmico. Todos reunidos no auditório, a diretora passou a chamar os alunos que se destacaram. Na medida em que eram chamados, os alunos, dignos da honraria, subiam no palco sob o aplauso de todos. Regra geral, não havia surpresa, os nomes eram os de sempre. Vera Lúcia, a exemplo do ano anterior, estava presente na lista como destaque em língua portuguesa. Quando a diretora anunciou o nome do aluno vencedor, laureado por excelência geral, o auditório ficou perplexo. Quem é esse cara? Todos se perguntavam! Surgindo do anonimato, Sérgio, orgulhosamente, se apresentou para receber o prêmio. Enquanto caminhava em direção ao palco, ouvindo os aplausos, ele pensava na razão de sua solitária batalha. Vera Lúcia. Quem sabe agora ela iria ver que ele existia. E ele conseguiu muito mais do que isso.

Num caloroso abraço de congratulações, Vera Lúcia demonstrou toda sua admiração pelo brilhantismo de seu colega. Como ela nunca tinha notado alguém tão inteligente, na sua própria sala? E bonito, observou, logo em seguida.

Pequiboy
Enviado por Pequiboy em 18/04/2015
Código do texto: T5212028
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