A CULPA É DOS SISTEMAS

Depois de breve período, eis que me proponho a escrever. Antes, porém vou explicar e certamente o leitor compreenderá o motivo, ligo o PC e sou obrigado a reinicia-lo duas vezes a pedido do computador. Pronto! Enfim, o Word. Com pedido do computador quero dizer “é altamente recomendável”, segundo essa simpatia de Windows. É um eufemismo, pois na verdade ele quer dizer: “ou você faz, ou você tá ferrado. Sou eu que mando. Sou o sistema operacional que controla sua vida e se eu quiser você não faz nada”. Desconfio que o sistema antivírus deixou passar alguma coisa. Tenho tendências a acreditar numa teoria da conspiração que diz que o próprio fabricante produz o vírus para nos obrigar a comprar a atualização. Quero explicar que antes de encontrar essa tela em branco, onde preencho essas malfadadas linhas, já fui vítima de sistemas por duas vezes.

Vejamos! Por onde começar? Mais uma explicação: esse titulo remete a outro “A culpa é das estrelas”, livro que (pasmem!) não foi escrito por um guru esotérico com orientações sobre determinismo astrológico, mas sim é um romance “nova literatura adolescente” que fez muito sucesso, inclusive no Brasil, pais em que o sistema educacional não favorece o prazer pela leitura. Olha o sistema aqui outra vez. É até desnecessário explicar, dirá o leitor. Qualquer pessoa no sistema solar sabe disso. Do sucesso do livro e do fracasso da nossa Educação.

Deixa eu começar logo que o leitor tem mais o que fazer e já deve estar cansado desse meu lenga-lenga explicativo. Vamos lá!

Essa é a emocionante história de um homem contra forças misteriosas, onipotentes e onipresentes que controlam nossas vidas. Um drama com grandes surpresas e reviravoltas. Você irá se identificar! Irá se emocionar (raiva e indignação são algumas das emoções possíveis). Apresento a vocês a fascinante trajetória de um homem que foi ao banco pagar uma conta.

Agora vocês me perguntam: Porque fui no banco? Não podia ter usado o internet banking? Sim, esse homem sou eu. Bom, para começar o sistema de entregas dos correios foi incapaz de entregar-me a fatura antes do prazo de vencimento. Antes de sair tento a internet. O navegador não carrega o site, impossível abrir a página onde eu poderia pagar usando o cartão de credito. Não sei se o motivo é o site (sistema de informação), a minha internet (sistema de comunicação), o meu computador (sistema operacional e antivírus) ou a soma de todos para sabotar o meu bom humor.

Pego o carro e vou ao banco. Um caos, horário de almoço e o sistema de trafego já não suporta tantos carros. Gasto 25 minutos num trajeto que gasto em média dez.

Chego no banco. Surpresa! Caixas eletrônicos em manutenção. Olha o sistema aqui outra vez. Vejo a fila do guichê de atendimento e penso “não dá, se eu pegar essa fila eu não vou trabalhar hoje”. Decido ir a outro local, peregrinação atrás de um caixa eletrônico.

Num centro de compras, uma reviravolta. Uma mensagem pregada no lugar onde deveria estar um caixa eletrônico “Senhores clientes, informamos que a partir dessa data o caixa eletrônico do banco X foi retirado por medidas de segurança. Lamentamos o transtorno” Lamenta mesmo? - penso. Quando estou saindo vejo uma plaquinha escrito “Top System, segurança patrimonial”. Enfim, o sistema de segurança não está apto a garantir a segurança e teme a explosão de um caixa eletrônico. Contraditório não?! Nessa altura do campeonato o meu mal humor já explodiu.

Frustrado, impaciente, com raiva, indignado resolvi ir pro centro da cidade. Preciso mesmo ir no banco. A conta vence hoje.

Em outro banco, o mesmo que antes: caixas eletrônicos inativos, manutenção de sistema. Percebo que no guichê de atendimento pessoal a fila parece menor. Vou arriscar. A porta giratória apita sem motivo. Só faltou eu ficar pelado. O segurança mostrando alguma empatia comenta com um sorriso sarcástico “o sistema tá louco hoje, doutor” Penso comigo: ele nem imagina.

Entro, pego senha e espero, espero, espero... Nisso a fila de atendimento preferencial já atendeu todos os idosos e que por mim poderiam ficar ali esperando sentados o dia todo, afinal eu ainda vou trabalhar, eles não. Sim, eu estava revoltado.

Também vejo nessa fila que uma mesma criança passa de colo em colo por diferentes mulheres. Será que o caixa pensa que são trigêmeos? Gente corrupta. O sistema político tem mesmo representantes do povo. Penso que se eu fosse do sistema legislativo criaria uma lei que pede reconhecimento biométrico das crianças. Deixa pra lá. Estou nervoso e atrasado.

Longa demora. Finalmente sou atendido. Uma eternidade pra pagar uma simples conta. Pra minha surpresa a atendente diz: “o sistema está meio lento hoje”. Dou um sorriso sem graça e penso “os sistemas controlam e são algoz de todos nós. Isso ainda vai virar uma crônica”.