Tiradentes e a "delação premiada"
Tivemos uma formação de não “dedurar” o colega. Lembro-me que, no Seminário, desapareceu o missal de Amadeu. Fomos trancados, numa sala, durante um dia, mas ninguém delatou ao “disciplinário” Catão o Galego que escondera, por vingança, o livro dourado, caro, de papel bíblia, num dos buracos da vetusta Igreja São Francisco. O tempo passou, fomos liberados do confinamento, o livro mofou, mas o “disciplinário” nada soube ao pedir que o indisciplinado revelasse seu feito... A lógica ensina que há também meios para através do efeito se chegar à causa; como na autópsia, nem cadáver fala, nem o assassino confessa, mas, através dos efeitos, chega-se à “causa mortis”...
Tempos depois, alguns de nós, educadores, nunca estimulamos a denúncia que é seguida de prêmios, prestígio, compensações, como aconteceu no episódio de Judas, entregando Jesus por trinta dinheiros, o que lhe motivou suicídio. A tortura, ao longo da história, exigiu do torturado, para sofrer menos, nomes dos companheiros de luta; alguns resistiram até à morte, mas não denunciaram seus companheiros de conspiração. Há quem, por pecúnia, para ocupar o trabalho do denunciado, por vingança, para apagar alguma ofensa, por inveja, para ver a desgraça alheia, vive a delatar; acusa e chega a mentir, inventando o inexistente, à busca de prêmios. As perseguições religiosas, ideológicas ou políticas são palcos desses vergonhosos fatos, de mártires e vítimas, como Joana D’Arc, Thomas Morus e o filósofo Giordano Bruno... Tiradentes e os “inconfidentes mineiros” também tiveram seu delator: o contratador de estradas e entradas, o fazendeiro, o proprietário de minas, Joaquim Silvério dos Reis que, falido, delatou por interesses pessoais e obteve sua “delação premiada”: perdão de todos os impostos e dívidas à Coroa portuguesa; rica mansão; uma pensão vitalícia; título de fidalgo e fardão de gala da Casa Real; hábito da Ordem de Cristo; audiência privilegiada com o Príncipe Regente João, em Lisboa, à custa do erário.
Mas, o negativo, dialeticamente, tem sempre um lado positivo. Por exemplo, na região onde impera a seca, há menor quantidade de mosquitos da dengue... Assim, se alguém soubesse que o piloto suicida planejava fazer cair o avião com passageiros, então deveria denunciá-lo para impedir essa calamidade. Enfim, o que prejudicar o bem comum deve ser revelado, seja quem seja o acusado. Porém, o prêmio da delação seja tão só a consciência de ter praticado um ato de bem, mas, não, cometido uma "delação premiada"...
Tivemos uma formação de não “dedurar” o colega. Lembro-me que, no Seminário, desapareceu o missal de Amadeu. Fomos trancados, numa sala, durante um dia, mas ninguém delatou ao “disciplinário” Catão o Galego que escondera, por vingança, o livro dourado, caro, de papel bíblia, num dos buracos da vetusta Igreja São Francisco. O tempo passou, fomos liberados do confinamento, o livro mofou, mas o “disciplinário” nada soube ao pedir que o indisciplinado revelasse seu feito... A lógica ensina que há também meios para através do efeito se chegar à causa; como na autópsia, nem cadáver fala, nem o assassino confessa, mas, através dos efeitos, chega-se à “causa mortis”...
Tempos depois, alguns de nós, educadores, nunca estimulamos a denúncia que é seguida de prêmios, prestígio, compensações, como aconteceu no episódio de Judas, entregando Jesus por trinta dinheiros, o que lhe motivou suicídio. A tortura, ao longo da história, exigiu do torturado, para sofrer menos, nomes dos companheiros de luta; alguns resistiram até à morte, mas não denunciaram seus companheiros de conspiração. Há quem, por pecúnia, para ocupar o trabalho do denunciado, por vingança, para apagar alguma ofensa, por inveja, para ver a desgraça alheia, vive a delatar; acusa e chega a mentir, inventando o inexistente, à busca de prêmios. As perseguições religiosas, ideológicas ou políticas são palcos desses vergonhosos fatos, de mártires e vítimas, como Joana D’Arc, Thomas Morus e o filósofo Giordano Bruno... Tiradentes e os “inconfidentes mineiros” também tiveram seu delator: o contratador de estradas e entradas, o fazendeiro, o proprietário de minas, Joaquim Silvério dos Reis que, falido, delatou por interesses pessoais e obteve sua “delação premiada”: perdão de todos os impostos e dívidas à Coroa portuguesa; rica mansão; uma pensão vitalícia; título de fidalgo e fardão de gala da Casa Real; hábito da Ordem de Cristo; audiência privilegiada com o Príncipe Regente João, em Lisboa, à custa do erário.
Mas, o negativo, dialeticamente, tem sempre um lado positivo. Por exemplo, na região onde impera a seca, há menor quantidade de mosquitos da dengue... Assim, se alguém soubesse que o piloto suicida planejava fazer cair o avião com passageiros, então deveria denunciá-lo para impedir essa calamidade. Enfim, o que prejudicar o bem comum deve ser revelado, seja quem seja o acusado. Porém, o prêmio da delação seja tão só a consciência de ter praticado um ato de bem, mas, não, cometido uma "delação premiada"...