Por dentro da saudade

Saudade é o compasso de fechar-se ao tempo de finalizar um círculo e uma nova imagem ocupar o todo. Escolha de quem quer lembrar o distante justamente no tempo, onde nossa capacidade é prática em recriar. Falta um parafuso na palavra saudade, que se perdeu exatamente quando o passado cravou sua tese no inacessível segundo que passara.

Por outro lado, a saudade é o melhor da construção espaço-temporal, pois no final – que começa e não pode parar – estaremos longe da esfera atual. Desse modo, a saudade é um feliz lembrar-se da prova de que perecemos um dia, o mais tarde possível da realidade (que não podemos controlar).

Mas o humano faz sua saudade, com aptidão, na memória de todos esses anos passando e você delirando as verdades da vida. Boas ou más, as lembranças vêm para construir um novo eu. Pois mudar a vida é quase tão sutil quanto se transportar para a imagem mental de uma ocasião. Mas a vida muda devagar, a nos mostrar cada instante existido em tempo real.

E nós nos deslocamos no tempo, a deixar de lado, tantas bobagens nas quais acreditávamos. Tanta coisa formadora de nossos ideais e nas principais mudanças de fé. E o que cremos é bagagem deste caminhar. Não haveria saudade, se o peso de nossa cruz, não se elevasse e diminui-se a cada reciclagem que, feito rasteira, a vida nos dá, em "cursos presenciais" de tantos e tantos anos.

Tudo que está em território tão estranho e contemporâneo de momentos atrás, são memórias deixadas à solidão de cada momento. Cena a cena, tudo vai ficando e a gente vai deixando lembranças que não nos abandonam, para usufruirmos o bem estar, que todos querem. O tempo, pai da saudade, invade a vida desde a primeira batida do coração. Suave razão pela qual sabemos que lembrar é muito mais que necessário. E se isso gera saudade, que seja das melhores lembranças possíveis.