Querido diário

Na verdade, eu não tenho um diário. Sempre que começo um, acabo me perdendo uns dias porque nada de diferente acontece. Isto não é um diário, é só uma folha que achei e acabei sentindo necessidade de escrever.

Estou meio confusa. Parece que estou passando (tardiamente) pela crise de identidade que todo ser humano precisa passar. Não sei se é certo ou errado. Também não me importa. Você se já sentiu extremamente indeciso, com mais medo que coragem, mais dúvidas que certezas? Se sim, ótimo, sei que não sou a única. É como se o mundo fosse uma grande avenida na qual você não sabe se atravessa ou não, se deve seguir o semáforo ou se deve arriscar pela sua consciência. Ou então, sei lá, um rio com uma correnteza muita forte que você não sabe se desiste ou nada contra ela.

Me perdi no meu próprio texto, que vergonha.

Acho que esse é o meu estado: perdida. Fico me perguntando o que faz todos serem felizes, ou aparentarem ser, o que os faz ter fé em algo ou alguém (não só em Deus, no outro, na humanidade, na justiça, qualquer coisa). Talvez o estado deles seja mais miserável que o meu, uma falsa ilusão de que há chão embaixo de onde você pisa. Ou isso tudo é uma grande loucura da minha parte e eu deveria me contentar em seguir o que me falam. Oh como eu odeio essa indecisão, essa falta de sanidade (ou excesso dela).

Talvez isso seja apenas um estágio, passageiro. Sim, tudo isso vai passar. Poderei me adaptar, poderei ir com a multidão e essa maluquice toda será esquecida. Nunca aconteceu. Não há lugar para questionamento no mundo dos adultos, poderei ser feliz sendo uma máquina reprodutora de fatos.

Sim.

Talvez.