O anjo negro.
Ana Toledo, nossa colega do Recanto das Letras sugeriu que escrevêssemos contos tendo como personagens deuses da Mitologia Africana.
Lembrei-me dessa história real que vou contar com renovada emoção.
Em 1990 eu dava aulas de Yoga. Recebi uma aluna que, por suas feições me fez lembrar um de meus professores; e não me enganei.
A empatia foi imediata, logo nos tornamos amigas.
Anos depois ela ficou muito doente, foi internada, e passou a precisar de cuidados especiais.
Ela vivia apenas com o marido, ambos com setenta anos.
O seu braço direito passou a ser a faxineira que, junto com a filhinha e o marido se mudou pra perto dela pra poder lhe dar melhor atenção.
Na relação de anos entre a moça, o marido e a filhinha que a patroa viu nascer surgiu sólida amizade baseada no mútuo respeito.
Um dia, fui com uma amiga ao hospital perto da hora do almoço.
Pensamos em coloca-la na cadeira de rodas pra almoçar, facilitar sua ida ao sanitário, e quem sabe andar um pouco pelo corredor do hospital antes de recoloca-la na cama.
Pra nossa surpresa lá estava o rapaz negro com quase dois metros de altura, forte, um sorriso de paz, totalmente disponível para ajudar no que fosse preciso.
Só então soubemos que, todos os dias, era ele que a retirava e recolocava na cama com todo o cuidado.
Ele, o marido da faxineira, usou o seu horário de almoço pra auxiliar a nossa amiga por meses.
Esqueci o seu nome, mas de seus gestos, sorriso, dedicação e amizade sincera, eu jamais vou esquecer.