A vida é assim
A vida é assim. Se não estivermos inteiramente no momento presente, olharemos a nossa volta e tudo terá passado. Teremos deixado de sentir o aroma, o requinte e a beleza de existir. Cada pessoa tem que entender o seu tempo e ver a história como uma sucessão de hábitos e saberes que competem entre si e se devoram.
Quem não os compreende corre o risco de perder o rumo e tornar-se alheio a tudo. Hoje, há uma adesão incondicional às ferramentas da mídia, prontas a dar uma opinião a respeito de qualquer assunto. A única regra parece ser a do "compartilho, logo existo". Há uma ansiedade compulsiva para a qual não há antídoto. O remédio parece ser compartilhar ainda mais. Para estar no tempo presente, na vida presente, é necessário cair na rede.
Como anfitrião de uma festa, cada usuário precisa dar atenção a todos, mesmo que de forma efêmera e rasa. Com isso, grande parte das relações interpessoais é perdida. As redes sociais são a bola da vez. Ignorá-las é tão inviável quanto viver sem celular, cartão de crédito, conta bancária ou qualquer tipo de atividade que deixe registro. Além disso, abandoná-las reduz oportunidades de autoexpressão, convívio, aprendizado, crescimento pessoal e intercâmbio social.
Como os processos de socialização são inevitáveis, é importante definir regras para que o que deveria ser guardado não se transforme em material de divulgação ou relatos de momentos extremos, preferências particulares, indicações de patrimônio e de desabafos. Muitos (ou poucos) reclamam da invasão de privacidade, mas, dentro de seus princípios, cada pessoa tem que viver no seu tempo. Quem não se insere nele fica cristalizado. Não há mais espaço para quem julga que sabe tudo. No mundo mutante em que vivemos, a tradição é passada de filho para pai.
Vale a pena, então, viver o tempo presente e conviver com os avanços da tecnologia, como teimoso aprendiz, com a certeza de que este vasto mundo é complexo, mas é muito interessante e, também, de que cada opção é passageira ao mesmo tempo em que se apresenta como meio e garantia de sobrevivência social. Não há nenhum modo de escapar das mudanças nem de suas consequências. Além disso, é preciso armazenar curiosidade para o amanhã. A cada amanhecer, surgem novos caminhos para serem trilhados, na esperança de que chegue a "ferramenta" perfeita, definitiva, como a caneta-tinteiro e o mata-borrão.