TCHAU!

E eu lá tô preocupada com o maior espaço no closet para os meus sapatos? Estou tão enjoada deles que poderia fácil mandar uns dez pares para o lixo.Surpreso?

Panelas, que panelas? As vermelhas, que compramos juntos e você achou uma ofensa de tão caras? Fique com elas, mas deixa a frigideira e a chaleira bonitinha. Posso muito bem sobreviver à base de omeletes e chá de hortelã(continuo fugindo das possibilidades de cozinhar, algum problema?). Talvez eu me perca nessa cozinha que não conheço,não frequento, mas isso é o de menos. Tenho caminhos muito mais tortuosos a percorrer.

Você olha para as paredes como se fosse sentir saudade das fotos que insisti em usar de decoração. Me seguro pra não me revoltar, não jogar na sua cara o que é ridículo de tão óbvio: sou eu que vou lidar com a sujeira que tanta memória espalhou por essa casa,por mim.

Pode parar, não é agora que vou separar os cds em meus e seus. Só deixe o Abbey Road, o último do Bowie e o daquele ruivinho que você me deu de aniversário. Leve tudo,não discuta: afunde-se no seu barulho, na sua pseudo sagacidade musical. Eu não tenho medo do silêncio.

As sacolas estão pesadas, nem tudo coube nas malas? O medo de precisar voltar não vai curar o seu ombro machucado que a mochila velha incomoda. Posso sentir o seu orgulho misturado ao cheiro do Gelol. E quero mais é que se dane.

Danem-se as toalhas azuis que abandonaram o meu varal, a carona para voltar do trabalho, o vinho às sextas,os filmes aos sábados.Quero mais é que a sua decisão, seu receio e meu abandono se explodam e levem com eles minha tristeza,o portão que se fecha, a sua pressa.

Fodam-se os bons dia com iogurtes, os banhos à luz de vela, as mordidas, os sorrisos, os planos e esses nossos oito anos.

Foda-se você que não quer mais saber de mim.

Débora Consiglio
Enviado por Débora Consiglio em 15/04/2015
Código do texto: T5207887
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