EDUCAR OU EDUCAR-SE?
Atualmente, educar é um desafio. A geração atual já não aceita mais atitudes impositivas. É questionadora. Não se pode usar o velho preceito do “faça o que eu falo”... eles estão nos observando e parecem esperar o momento certo para devolver a peteca e colocarem em debate uma “equivocada” postura dos pais.
Pela rotina frenética de muitos casais, há os que optam por não terem filhos. Sentem-se incapazes de uma mudança nas suas rotinas, que os coloquem vulneráveis diante de um novo ser totalmente dependente deles. Há outros que só conseguem enxergar a paternidade sob a esfera econômica e, diante da possibilidade de oferecerem a melhor escola, a melhor roupa, a melhor festa... optam por não ter filhos. A verdade é que os que assim pensam estão colocando apenas a sua vaidade em evidência... uma criança quando nasce, não chega conhecendo marca de roupa, reivindicando coisas caras...essas coisas somos nós, pais, quem criamos.
A criança, principalmente nos primeiros anos, só quer uma coisa... Afeto! Os valores vão sendo criados a partir da percepção do mundo que nós pais, mostramos a elas.
Se o caráter econômico não justifica a opção por não ter filhos, o mesmo não pode ser dito dos que temem estarem mais vulneráveis, a uma quebra de rotina. Um filho chega mesmo para nos desconstruir. É uma explosão não apenas hormonal nas mulheres. Você deixa de ser o centro da sua própria vida e, nos primeiros anos de vida da criança passa a dividir a personagem principal com ela. Todas as teorias são teorias... e a vivência é que mostra o caminho. Não dá para viver um faz de conta... a criança nos chama à realidade e faz com que repensemos tudo em nossas vidas.
Vamos passando nossos valores, nossos melhores pensamentos... mas eles não se importam muito com o discurso. O que importa para eles é o exemplo. Passamos a ser vigiados em nosso todo e, ao menor tropeço, somos “julgados” e “questionados”. Nesse contexto, os papéis se invertem e o que observamos é que, como pais, nem sempre iremos educar, mas sermos educados por essa vivência com a criança.
Tenho um filho de seis anos. Recentemente, durante uma birra perdi a paciência e dei um tapa em seu braço. Naquele mesmo momento toda a sua expressão corporal e facial foi modificada e, para minha surpresa, o meu comportamento colocado em questão.
Após o tapa, com lágrima nos olhos ele me disse enfaticamente:
- Mãe, peça desculpas agora! Não se deve bater em criança!
Vivi um dilema. Poderia usar minha autoridade materna, ignorar o sentimento dele e continuar minha vida. Mas não! Percebi que estava tendo ali uma oportunidade ímpar de ensinar muitas coisas a ele. Pedi desculpas pelo tapa e disse que realmente não se deve bater em ninguém. Com isso, ensinei que nós, os seus modelos, também erramos, mas que podemos e somos capazes de nos perdoar e ser perdoados. Reforcei minha ideia de que bater não resolve nada. Mas engana-se quem pensa que, com isso perdi minha autoridade. Após esse episódio conversei com ele que apesar da minha atitude equivocada ele precisaria ainda seguir às minhas determinações... e eu fui plenamente atendida.
Nesse exemplo, como em outras experiências que eu poderia listar aqui, mais do que educar, eu fui educada também. Os pais que olham seus filhos com generosidade e se abrem às mudanças e vulnerabilidades que a chegada de uma criança traz, podem se considerar privilegiados com o ganho de maturidade diante da vida. Um filho nos desconstrói e nos leva a construção de uma versão melhorada de nós mesmos... um upgrade. Mas devemos estar prontos para isso para, enfim, ir seguindo... sendo educados ao longo da vida.